São Paulo, quarta-feira, 9 de março de 1994
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Escritor quer usar experiência do cinema

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

O teatrólogo Ariano Suassuna, 66, vai interromper o romance que está escrevendo para trabalhar na adaptação da peça "Uma Mulher Vestida de Sol", uma tragédia sobre o amor de uma sertaneja, escrita há 47 anos e que nunca foi encenada. De Recife, onde mora, ele disse à Folha por telefone que assiste pouco TV, mas que se aproximou de Luiz Fernando Carvalho após ver o trabalho do diretor em "Renascer". Suassuna revela que gostaria de ver a atriz Tereza Seiblitz protagonizando o especial. Inexperiente em roteiros para a TV, o escritor diz que vai usar o que aprendeu durante as duas adaptações de "Auto da Compadecida" feitas para o cinema. A história do gato que "descomia" dinheiro já foi dirigida no cinema por George Jonas e depois por Roberto farias, num filme com Os Trapalhões. Membro da Academia Brasileira de Letras desde 89, Suassuna não é visto nas reuniões da entidade no Rio. Prefere a tranquilidade de sua chácara, onde deve montar seu escritório com Carvalho. A seguir, a entrevista:

Folha - Como surgiu a idéia de adaptar "Uma Mulher Vestida de Sol" para a televisão?
Ariano Suassuna - Eu já havia gostado da direção do Luiz Fernando Carvalho em "Renascer" e fui apresentado a ele pelo Antônio Nóbrega, um amigo comum, há alguns meses. Nós nos entendemos muito bem e temos muita identificação na forma de encarar a cultura popular. Antes, eu já tinha conversado com o Osmar Prado em São Paulo sobre o belo trabalho que ele vinha fazendo na novela. Agora, vamos iniciar a adaptação.
Folha - Como é a peça?
Suassuna - Foi a minha primeira peça. Escrevi quando tinha 20 anos, mas ela nunca foi encenada. É uma tragédia sobre o amor de uma sertaneja. O título é de um verso bíblico do apocalipse de São João, que eu gostei muito e resolvi usar. Como o sol está presente nas estórias do sertão, dei este nome.
Folha - Porque ela nunca foi encenada?
Suassuna - Não sei...é uma tragédia. O teatro amador normalmente não acerta fazer tragédias. E tem muitos personagens também. Pode estar relacionado a isso.
Folha - O senhor assiste muito televisão?
Suassuna - Não, não muito. Outro dia vi o balé "Petrushka", com música de Stravinsky. Achei belíssimo, mas... bem, a TV tem algumas vantagens. Não posso dizer que vejo muito televisão.
Folha - O senhor nunca foi um entusiasta da TV, não é?
Suassuna - Acho que a TV é que nunca foi entusiasta de mim (risos).
Folha - O senhor já pensou em nomes que gostaria de ver no elenco do especial?
Suassuna - O Luiz Fernando terá total liberdade na escolha dos atores, mas eu gostaria de ver a Tereza Seiblitz no papel principal. Não sei se vai ser possível, pois ela pode estar com outros trabalhos na época. Gostava muito da personagem Joaninha, que ela fez em "Renascer". Aquela que era mulher do Tião Galinha (Osmar Prado).
Folha - O senhor está escrevendo alguma coisa atualmente?
Suassuna - Estou escrevendo um romance, mas não falo sobre ele antes de terminar. Tenho esse costume. E também só batizo depois do nascimento. Agora vou parar para me dedicar a essa adaptação e depois retomo.
Folha - O senhor já tem experiência em roteiros de TV?
Suassuna - Só de cinema. O "Auto da Compadecida" foi adaptado duas vezes, uma pelo cineasta de São Paulo George Jonas e outra pelos Trapalhões. Trabalhei nas duas adaptações e gostei dos resultados. (Marcelo Migliacio)

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