São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Itamar diz que FHC ainda não lhe comunicou sua candidatura

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

O presidente Itamar Franco disse ontem que uma candidatura, a qualquer cargo eletivo, depende de dois fatores, "saber o que a alma de cada um diz a respeito e se seu partido apóia o desejo de candidatar-se". Acrescentou o presidente: "O ministro Fernando Henrique Cardoso ainda não me disse o que a sua alma lhe diz." Foi a maneira que Itamar encontrou para desmentir a manchete de ontem do "Jornal do Brasil", segundo a qual o presidente já teria sido avisado de que FHC deixa o Ministério da Fazenda até 2 de abril, para disputar a Presidência.
A informação motivou um zigue-zague do chefe do Gabinete Civil, Henrique Hargreaves, que acompanha Itamar na estada no Chile, para a posse, hoje, do novo presidente, Eduardo Frei Ruiz-Tagle. Ao chegar ao hotel Sheraton, onde a comitiva se hospeda, Hargreaves disse que FHC "sai no dia 2". Depois, alertado pelo porta-voz, Francisco Baker, do reboliço causado entre os repórteres pela sua afirmação, Hargreaves voltou à rodinha de jornalistas para desdizer-se. "Não sei se o ministro já comunicou ou não ao presidente que é candidato e não sei se será candidato", afirmou Hargreaves.
Já Mauro Durante, secretário-geral da Presidência, mesmo ressalvando que não dispunha de informação alguma a respeito, foi claro em conversa com a Folha: "Acho que ele deve ser candidato. É o momento dele." O argumento de Durante para justificar a eventual saída de FHC tem toda a lógica: "Se o plano é de fato bom, funciona com ele ou sem ele no Ministério." Itamar, de seu lado, escapou de todas as perguntas a respeito da candidatura FHC. Limitou-se a prever que, com a manutenção do prazo de 2 de abril para a desincompatibilização, haverá uma aceleração da corrida sucessória. "Os governadores, os prefeitos, os ministros que quiserem concorrer vão ter que se definir logo", disse Itamar.
Contou ainda ter conversado sobre política brasileira com seu colega chileno Patrício Aylwin. "Feliz é o governante que pode ao mesmo tempo conduzir a transição democrática e passar a faixa a alguém que dê continuidade ao seu trabalho", afirmou, aludindo ao fato que o democrata-cristão Aylwin está sendo substituído pelo democrata-cristão Eduardo Frei.
Itamar disse que ficaria feliz se pudesse fazer a mesma coisa no Brasil, mas logo emendou: "O governo ainda não tem candidato." O presidente escapou das perguntas a respeito do eventual sucessor de FHC na Fazenda. Quando a Folha observou que o presidente teria apenas 20 dias pela frente para escolher outro nome para a Fazenda, Itamar disse: "Uma batalha pode ser ganha em 24 horas."

Texto Anterior: Sucessor precisa contentar Itamar
Próximo Texto: Itamar não fala de FHC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.