São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Camelô 'se virou' no parto dos filhos

Maioria não pode pagar Previdência

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O enorme contingente de brasileiros que, apesar de terem alguma forma de ocupação não contribuem para a Previdência Social, se por um lado fragiliza o sistema previdenciário, por outro reflete uma forma de defesa da população contra o desemprego e baixos ganhos.
Reginaldo Rocha, cearense de 23 anos, é dono de uma barraca no parque Dom Pedro há três anos. Vende cigarros, pinga e quitutes –sem autorização da prefeitura. Sua mulher, grávida do quarto filho, mora em Guaianazes (zona leste de São Paulo), e só vê o marido nos finais de semana. Nos outros dias, Rocha "mora" na barraca –segundo ele, a condução até sua casa "é cara" e o movimento noturno é maior.
Ele não pensa em pagar a contribuição para a Previdência Social. "Com o que sobra, mal dá para o aluguel", afirma. Rocha diz que nunca precisou de médico e que conseguiu "se virar" nos partos dos filhos.
Zélia Costa de Souza, 27, trabalha como empregada doméstica desde os 13 para ajudar a família, que mora no interior da Bahia. Cobra CR$ 5.000 por dia. Em alguns empregos, Zélia chegou a ter carteira assinada. Mas, segundo ela, nem todas as "patroas" queriam arcar com "esses direitos". Quando passou a diarista, ela diz que ficou pesado pagar o carnê do INSS. "Tinha de pagar o aluguel e cuidar do meu filho. Não sobrou dinheiro."

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