São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Entre a parede e a espada

O virtual lançamento da candidatura de Paulo Maluf (PPR-SP) à Presidência da República lança nuvens ainda mais negras sobre um já nada animador panorama sucessório. Com efeito, a mais recente pesquisa Datafolha, publicada por esta Folha no último domingo, indica que, se a eleição fosse agora, passariam para o segundo turno o candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, e o atual prefeito paulistano. Antonio Britto, que obtém o mesmo percentual de intenções de voto de Maluf, dificilmente sairá candidato.
São dois candidatos, Lula e Maluf, que representam extremos. De fato, o PT, em que pese seu bom desempenho no importante quesito ética, permanece ainda impregnado de uma ideologia obsoleta e extemporânea, que simplesmente perdeu a razão de ser depois da queda do famigerado Muro de Berlim.
Para agravar ainda mais a situação, o partido encontra-se profundamente dividido. De um lado estão as forças mais moderadas, que, ao longo de alguns anos de vivência democrática, amadureceram e aprenderam a fazer política de forma mais moderna e responsável. De outro lado porém, dominando a cúpula da agremiação, estão forças radicais, que ainda seguem a velha cartilha da Guerra Fria e se baseiam num corporativismo insensato.
Lula aparentemente não vem conseguindo sobrepor-se a esses radicais. Se não consegue manter coeso o próprio partido, o que não pensar de um eventual governo, em que precisaria ter necessariamente o apoio de outras legendas?
Já Paulo Maluf representa o passado. Não um passado qualquer, mas justamente o passado que determinou a absurda situação que o país atravessa hoje, em que uma profunda crise estrutural agrava ainda mais a situação de um exército de miseráveis arregimentados por um dos piores sistemas de distribuição de renda do mundo.
Contra Maluf pesam ainda terríveis suspeitas no campo da ética, que o país tão ansiosamente deseja redescobrir. Além disso, seu método de fazer política, baseado no clientelismo, no "é dando que se recebe", é o que há de mais arcaico no Brasil. Enfim, Maluf representa tudo aquilo que se quer superar na vida pública nacional.
Nenhuma dessas candidaturas, portanto, responde hoje aos anseios de modernização e moralização do país.

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