São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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Para empresário, telefonia dá lucro até no interior da Amazônia

DA ENVIADA ESPECIAL A UBERLÂNDIA

O engenheiro Luiz Alberto Garcia, 58, presidente do grupo ABC Algar e da Companhia de Telefones do Brasil Central, considera irreversível a quebra do monopólio estatal das telecomunicações. Em entrevista exclusiva à Folha, ele disse que quer concorrentes na sua área: "Meu pessoal está acomodado, não conhece competição e ainda acha que a população tem que bater à nossa porta para comprar telefones", afirmou.
Segundo o empresário, não existe "osso" em telecomunicações e todos os serviços são rentáveis: "Se a Telebrás acha que é mau negócio implantar telefone no interior da Amazônia, me dê a concessão que eu aceito". Ele defende a privatização gradual, critica o subsídio das tarifas e diz que o Estado-empresário é coisa ultrapassada: "Se o Estado controla tudo, quem vai controlar o controlador?", indaga.
Garvia está fazendo um curso de "business" internacional na Georgetown Universty, EUA. Ele falou com a Folha em Uberlândia (MG) onde se encontra de férias e em constantes reuniões com seus executivos. A seguir, os principais trechos da entrevista:
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Folha – Como a CTBC (Companhia de Telefones do Brasil Central) conseguiu ser a única telefônica privada do Brasil?
Garcia – Acredito que só sobrevivemos porque estamos implantados em quatro Estados. As empresas privadas que atuavam no setor foram absorvidas pelas Teles estaduais e como o Sistema Telebrás não tinha um esquema para nós, fomos renovando, a fórceps, nossa concessão.
Folha – A Telebrás nunca tentou acampar sua empresa?
Garcia – Somos pressionados diariamente, há mais de vinte anos. A aprovação de cada projeto nosso tem que ser arrancada a saca-rolhas. O general José Alencastro, fundador da Telebrás, que hoje defende a privatização, foi quem mais nos pressionou, embora tenha que reconhecer que ele foi um adversário leal. No goveno Costa e Silva, a polícia chegou a cercar nossa estação telefônica em Itumbiara (Goiás) e o cerco só foi desfeito por ordem do então Chefe da Casa Civil, Rondon Pacheco. Eu o chamei no meio da noite e pedi socorro.
Folha – Mesmo assim, os senhores têm conseguido renovar sua concessão.
Garcia – Mas cada renovação é um parto. Mobilizamos a prefeitura, vereadores, empresários, maçonaria e até os centros espíritas. Em 91, quando conseguimos renovar a concessão até o ano 2000, nossos empregados fizeram plantão no Congresso Nacional.
Folha – O senhor é a favor da privatização da telecomunicações?
Garcia – Vamos colocar as coisas em seu devido lugar. Não adianta querer privatizar e manter tarifas demagógicas como as de hoje. A privatização é irreversivel porque não há nada mais ultrapassado do que o Estado-empresário. Se o Estado é o controlador, quem vai controlar o comtrolador? A privatização deve ser gradual e começar pela abertura de alguns serviços, como, por exemplo, o da telefonia celular e de transmissão de dados.
Folha – O senhor diz que as tarifas atuais são baixas, mas sua empresa dá lucro. Como explica isso?
Garcia – A margem de lucro é muito estreita e só conseguimos ser lucrativos com uma estrutura muito enxuta. Temos 4,8 funcionário por mil terminais, quando no Sistema Telebrás a média é de 7,4 funcionários. Para poder investir, só distribuimos 3% do lucro aos acionistas, o que é muito pouco.
Folha – Os funcionários do Sistema Telebrás dizem que se houver quebra de monopólio, as empresas privadas vão querer só o filé do mercado, que são os celulares e a transmissão de dados, e que o "osso" ficaria com as estatais. O que o senhor acha disto?
Gracia – Quando não existiam os celulares e os serviços de transmissão de dados, eles também eram contra a quebra do monopólio e diziam que o setor privado iria querer só as cidades, deixando o meio rural sem telefones. Não existe "osso" nas telecomunicações. Eu digo que a telefonia é um bom negócio até no interior da Amazônia.
Folha – Se lhe oferecerem muito dinheiro, o senhor vende a CTBC?
Garcia – Não vendo por dinheiro nenhum. Se me oferecerem muito dinheiro, é porque estão vislumbrando um negócio que eu não estou enxergando e eu vou correr atrás para ver o que é. As telecomunicações são o negócio do futuro.
Folha – Se houver a quebra do monopólio das telecomunicações, outras empresas poderão disputar sua área. O senhor está preparado para isso?
Garcia – Tenho uma vontade louca de ter concorrência. Meu pessoal está muito acomodado, não conhece competição e ainda acha que quem quer telefone deve ir bater na nossa porta. Se abrir o mercado, eu vou disputar a telefonia celular em todo o Estado de Minas Gerais. Me aguardem.

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