São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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SP chega à era do strip interativo

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo nunca ofereceu a seus voyeurs, como hoje, tantos espetáculos eróticos ao vivo, mais ou menos pesados, para homens e mulheres, hetero e homossexuais. Os letreiros de néon, porém, não anunciam mais os shows de strip-tease –a "mãe" de todos esses espetáculos.
Para frustração de muitos, não se encontra mais na cidade uma mulher capaz de "apenas" se despir lentamente em público, ao som de um bolero, recolher os aplausos ao fim da música e retornar ao camarim com suas roupas nas mãos.
O clássico show de strip-tease, como concebido há 100 anos, foi obrigado a se reciclar para enfrentar a concorrência desleal dos produtos pornográficos "hardcore" (vídeos e shows de sexo explícito) que inundam o mercado. As mulheres ainda tiram a roupa ao som de música –sertaneja ou rock–, mas precisam fazer alguma coisa a mais para não perder o emprego.
Para quem pretende se aventurar, convém saber que há cada vez menos artistas e mais prostitutas protagonizando shows eróticos. O roteiro que se segue apresenta algumas das ofertas da noite paulistana.
CR$500,00
O que mais se assemelha a um show centenário de strip-tease pode ser visto hoje por módicos CR$ 500,00 numa casa apertada, escura, de aparência péssima, na Boca do Lixo paulistana. Trata-se do Clube de Homens Rio Branco (veja endereços no fim do texto), que exibe shows sem interrupção de segunda à sábado, das 12h às 24h.
Ali, 22 mulheres fazem de cinco a dez strips por dia, ao som de Simone, Raul Seixas ou Leandro e Leonardo. O show começa num palco de três metros quadrados e evolui para uma passarela estreita, que corta o teatro ao meio. Sentados ao longo dessa passarela, os espectadores têm direito a passar a mão no corpo das dançarinas.
"Só não vale agarrar e beliscar as meninas", explica o produtor Milton Donara, que mantém dois seguranças no teatro para garantir o cumprimento da lei. Cada espetáculo dura de 20 a 30 minutos (de quatro a seis músicas) e, nesse período, a stripper passa de quatro a seis vezes pela passarela, cada vez com menos roupas, até o desfile final, nua, quando todos os homens esticam os braços para tocá-la.
"Garota Iogurte"
Ainda na rua Aurora, funcionam teatros, mais ou menos decadentes, que oferecem atrações variadas, sempre começando com um strip-tease. Na programação do Studio, por exemplo, há desde shows de sexo explícito e sexo entre mulheres até coisas bem heterodoxas, como os programas "Banho de Espuma", no qual o público é convidado a enxugar mulheres ensaboadas, e "Garota Iogurte", que se diferencia do anterior pelo produto que as dançarinas passam no corpo.
"O strip precisa ser seguido de alguma coisa, senão o público perde o interesse. Introduzi o lesbianismo, que faz mais sucesso que o sexo de casais. Agora, sem a participação do público a coisa teria morrido", diz Rubens Rodrigues, diretor do Studio.
Há também humor nos shows interativos do Studio. A mulher, fantasiada de odalisca, faz um strip-tease e, nua, convida um homem da platéia para ir o palco. A modelo se ajoelha, tira as calças do sujeito, abaixa as suas cuecas e, quando todos pensam que vai acontecer alguma coisa, ela se vira, dá as costas e vai continuar o seu show em outro canto do palco –deixando o espectador nu, sozinho, no meio do palco, com cara de idiota.
Falta de romantismo
A decadência da Boca do Lixo não atinge as boates localizadas na região da Consolação, onde pontifica a Kilt. Turistas japoneses e norte-americanos frequentam a casa atrás de mulheres bonitas, que passam a noite dançando seminuas em cima do balcão do bar ou no pequeno palco da boate.
Shows de sexo explícito ocorrem de hora em hora –e strip-teases são raríssimos. "Um strip é muito mais romântico que um show de sexo explícito, mas o público quer se excitar rápido. Me lembro que, há 15 anos, três moças faziam strip vestindo longos. A liberação dos costumes acabou com isso", diz Tânia Maciel, proprietária do Kilt há 20 anos.
"Table dancing"
Na nova Boca do Luxo paulistana, no Itaim (zona oeste), onde a principal boate da região é o Café Photo, as casas concorrentes buscam alternativas para atrair o público, formado por executivos e jovens de classe média. No 108 Executive Bar, a solução encontrada foi uma volta ao strip-tease básico, clássico.
A casa inaugura no final do mês um programa chamado "table dancing", no qual o cliente paga para uma modelo fazer strip-tease em frente à sua mesa, num pequeno tablado e cercada por um biombo. Entre 21 e 25 de março, na semana que antecede o GP Brasil de Fórmula 1, a boate também fará um concurso de strip-tease, no qual o público será convidado a votar na melhor profissional.
A volta do strip-tease ainda está restrita ao Itaim. Mas a idéia agrada muito a mulheres obrigadas, pela profissão, a malabarismos no palco, como Mariana, 24, que faz isso há três anos na boate Kilt. "Show de sexo explícito acaba com o sexo. Prefiro fazer strip. Mas a garotada não gosta. Só homens de 40, 50 homens apreciam um strip-tease."

CLUBE DE HOMENS - Av. Rio Branco, 445, de segunda à sábado, das 12h às 24. Ingressos: CR$ 500,00.

STUDIO TEATRO - Rua Aurora, 710, diariamente, das 12h às 22h. Ingressos de CR$ 1.000,00 a CR$ 2.000,00

KILT - Rua Nestor Pestana, 266, diariamente, das 21h às 4h. Ingressos: CR$ 10.000,00 (no bar), com direito a um drinque, mais CR$ 2.500,00 (na mesa) de couvert artístico

108 EXECUTIVE BAR - Rua Renato Paes de Barros, 108, de segunda à sexta, a partir das 21h. Ingressos: CR$ 25.000,00, com direito a quatro drinques

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