São Paulo, domingo, 13 de março de 1994
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"Plus ça change..."

"'Plus ça change..."
A pesquisa Datafolha sobre a intenção de voto para governador em dez Estados e Distrito Federal que esta Folha publica na edição de hoje indica que a evolução do quadro eleitoral vai depender cada vez mais das alianças que os partidos acabem conseguindo articular.
Embora a sondagem reflita o momento presente, que pode ser e certamente será alterado, vale a pena refletir sobre o resultado. O candidato presidencial mais cotado nas pesquisas é Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Esse mesmo PT não apresenta nenhuma candidatura sólida em nenhuma região pesquisada. Também o PPR, que tem em Paulo Maluf o segundo melhor colocado nas pesquisas para a eleição presidencial, venceria só em Santa Catarina, com Esperidião Amin.
Mesmo que a candidatura do ministro Fernando Henrique Cardoso se viabilize, uma eventual vitória do atual titular da Fazenda seria acompanhada de apenas três governadores de seu partido, o PSDB, entre os Estados pesquisados. São eles Mario Covas, em São Paulo, Marcello Alencar, no Rio de Janeiro, e Tasso Jereissati, no Ceará.
O próprio PMDB, o maior partido do Brasil, faria apenas dois governadores entre as áreas investigadas: Antonio Britto no Rio Grande do Sul e Wilson Barbosa Martins no Mato Grosso do Sul. Os demais Estados pesquisados e o Distrito Federal seriam divididos entre uma série de siglas bem menos expressivas como PP, PTB, PSB e PMN.
Esse quadro mais uma vez denuncia a completa falta de consistência ideológica dos partidos políticos –com exceção parcial para o PT. Essa cultura está tão enraizada junto à sociedade que, no limite, mesmo o eleitor que vota em Lula não o faz apenas pelo programa ou plataforma do PT, mas porque é um líder carismático e representa algo novo na política. Se estivesse votando nas idéias do partido, escolheria também candidatos a governador da mesma agremiação.
Falta ainda dar muitos passos rumo ao fortalecimento dos partidos, especialmente como veículos da vontade política. O caminho pode ser aproveitar a oportunidade da revisão constitucional para dar mais força às legendas, reforçando uma série de mecanismos de fidelidade partidária e transferindo "de facto" o mandato do parlamentar para a sua legenda. A alternativa é a cada eleição cada um de nós ter, mais uma vez, de constatar que "plus ça change, plus c'est la même chose".

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