São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 1994
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Jovem homossexual vive conflito em dobro

ANTONINA LEMOS; JAIRO BOUER
DA REPORTAGEM LOCAL

JAIRO BOUER
Eles vivem com medo. Costumam se esconder da sociedade e são obrigados a conviver com preconceito. Além dos problemas naturais da adolescência, estas pessoas têm que lidar com outra dúvida: são homossexuais.
A primeira batalha é a própria aceitação da homossexualidade. Há muito medo e insegurança. Rubens (todos os nomes nesta reportagem são fictícios), 20, estudante, relutou em admitir que era homossexual. "Quando eu era pequeno, prefiria brincar com as meninas, mas aos 14 resolvi arrumar uma namorada para virar homem." Não conseguiu manter a decisão. Acabou o namoro quando percebeu que estava a fim de um garoto.
Glauco, 21, está no cursinho, e anda indeciso. "Vou a bares e boates gays, encontro meus amigos e de vez em quando arrumo um namorado. Mas ainda não tenho certeza que é isso que eu quero", diz. Fernando, 20, também teve dúvidas: "Muitos caras chegam a se desesperar quando percebem que gostam de meninos. Quando eu descobri pensei: 'Ferrou. Sou gay. O que faço?"'.
As garotas que gostam de outras garotas passam por problemas muito parecidos com os dos rapazes homossexuais. "Estava no fim do colegial, tinha acabado um namoro de dois anos com um garoto e percebi que estava apaixonada por uma menina da minha classe. Uma amiga me contou que já tinha ficado com algumas garotas e tinha sido bárbaro. Resolvi experimentar. Hoje prefiro transar com mulheres. Foi uma decisão sem muitos traumas", conta Carla, 23, que acabou a faculdade de direito em 93.
A maioria dos homossexuais não gosta de imaginar que o pai ou a mãe fiquem sabendo. "Morro de medo de que os meus pais descubram. Acho que eles vão querer me matar. Eles criam um monte de expectativas em cima da gente e daí parece que tudo cai por terra", diz Renato, 19.
Pelo medo dos pais, Renato tem que ocultar várias coisas, inclusive a recente paixão por Marcelo, 20, seu namorado. Eles evitam se falar por telefone e se apresentam como amigos. É por odiar esse tipo de situação que Marcelo contou tudo para seus pais, há um ano. "A gente estava no meio de uma discussão enorme, eu virei para eles e falei: 'É isso mesmo, sou gay, e daí?"' Ele garante que nessa hora tirou um grande peso da cabeça.
O namoro dos dois não foge do normal. Sentem ciúmes, viajam para lugares calmos nos fins-de-semana e curtem ficar juntos. Só ficam chateados por não poderem andar de mãos dadas ou se beijar em público. "Isso dá um pouco de raiva", diz Marcelo.

LEIA MAIS
Sobre homossexualismo teen à pág. 6-3.

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