São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 1994
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A Escola de Sociologia e Política

FLORESTAN FERNANDES

A Escola Livre de Sociologia foi fundada em 1933 (mais tarde, a qualificação "livre" desapareceu). Os recursos que a mantiveram procediam dos Estados Unidos e de pessoas ou instituições privadas nacionais. Suas ligações básicas, no início, faziam dela uma escola superior que exprimia os interesses industrialistas. O principal mentor, nesse momento, foi Roberto Simonsen, que se encarregou de alguns cursos de história econômica do Brasil e da formação industrial brasileira.
O objetivo central da escola consistia em atrair talentos jovens e promover a circulação das elites nos meios empresariais. Nesse sentido, ela malogrou, pois foi pequena a contribuição dada em tal esfera. A escola contou com alguns professores norte-americanos e europeus ou brasileiros de alto nível. Teve, também, alguns professores medíocres, que chegaram a lecionar em cursos de pós-graduação e possuíam qualificações mais diplomáticas que acadêmicas. Lowrie, Pierson, Baldus, Oberg, Willems, Mário Wagner, Octávio da Costa Eduardo etc., além de Simonsen, Sérgio Milliet, são índices da excelência dos melhores docentes. Radcliffe-Brown entra no tope dos professores-visitantes mais ilustres.
A escola produziu notável rendimento nos cursos de pós-graduação. Havia alunos de origem interna, como Oracy Nogueira ou Darcy Ribeiro; e outros procedentes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, como Lucila Hermann, Gioconda Mussolini, José Chasin. Os graduados em ciências sociais da faculdade, não contando então com cursos de pós-graduação, aproveitavam-se das oportunidades oferecidas pela Escola de Sociologia e Política. Eu próprio passei por essa experiência, movido adicionalmente pela curiosidade de conhecer melhor os sociólogos norte-americanos e a tendência empírica que se acreditava ser o seu forte, em confronto com o predomínio teórico da Faculdade de Filosofia (o que era uma avaliação grosseira, como me foi dado constatar).
Enquanto durou o mecenato norte-americano ou empresarial e a dedicação de Ciro Berlinck, a escola conseguiu recursos financeiros para manter-se. Quando eles se volatilizaram, desabou a era da incerteza, das dificuldades crescentemente mais cerradas. A iniciativa privada deu-lhe as costas, quando descobriu que os talentos tomavam rumos contrários às suas expectativas. Na década de 1960, alunos e alguns professores lutaram denodadamente por mudanças exigidas pela situação histórica. A escola foi estigmatizada e caiu nas mãos de administrações incompetentes ou inescrupulosas. A continuidade representou a vitória do clamor de estudantes, professores e funcionários.
Hoje, coloca-se o dilema: como salvá-la? Ela é um símbolo. Não pode ser enterrada como se fosse entulho. Cabe aos governos do Estado, do município e da União achar soluções factíveis, quiçá para reedificá-la como empreendimento cooperativo: uma união pedagógica de companheiros.

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