São Paulo, terça-feira, 15 de março de 1994
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Estranha aliança

Vem ganhando força dentro do PSDB a idéia de constituir uma aliança com o PFL tendo em vista a sucessão de Itamar Franco. Uma tal aliança causa profunda estranheza. Não se trata, é claro, de ignorar que para chegar ao poder é necessário fazer composições e negociar o apoio de outros grupos políticos. Ocorre, porém, que uma aliança como a que se esboça entre as duas agremiações deveria exigir um mínimo de compatibilidade ideológica das legendas e esta inexiste.
De fato, o PFL notabilizou-se por ser um partido regido por um único princípio: estar no poder. E assim foi desde o princípio. Seus membros eram governo nos tempos da ditadura militar e continuaram governo sob José Sarney, Fernando Collor de Mello e Itamar Franco. Pretendem permanecer com Fernando Henrique Cardoso.
Já o PSDB era um partido que procurava transmitir uma imagem identificada à social-democracia, de uma agremiação que se preocupava com a questão social e era fiel a certos princípios éticos e democráticos. Ao aliar-se ao PFL –o partido para o qual apenas o poder interessa, e a qualquer preço–, o PSDB estaria admitindo esse mesmo princípio. Colocaria em grave risco, assim, a sua imagem anterior.
E o perigo de comprometer essa imagem já divide a bancada peessedebista. Com efeito, 31,4% dos congressistas do partido são contrários à aliança, 24,1% a defendem "a priori" e igual número a deseja sob determinadas circunstâncias. Portanto, entre a "Realpolitik" e o apego aos princípios, parece que a primeira vai predominando.
É compreensível, embora não justificável. Afinal, eleitoralmente, o PSDB e o PFL são partidos que se complementam. O primeiro é forte nas regiões urbanas do Sul e Sudeste do país. O segundo tem força no Norte e no Nordeste.
A consolidar-se a aliança, resta saber o poder que o PFL conseguirá concentrar em suas mãos. É o que vai definir se a candidatura do ministro Fernando Henrique Cardoso vai ser a candidatura do "status quo" –a das mudanças cosméticas para nada mudar– ou poderá ser uma candidatura social-democrata que procure transformar o Brasil no país que todos almejamos.

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