São Paulo, terça-feira, 15 de março de 1994
Próximo Texto | Índice

A marca de meu governo

LUIZ ANTONIO FLEURY FILHO

Três anos transcorreram desde que cheguei ao Palácio dos Bandeirantes levado pelo voto majoritário dos brasileiros de São Paulo. Não trazia ilusões sobre a dura situação que deveria enfrentar. No início de 1991, o nosso Estado, como todos os outros da Federação, já vivia às voltas com inflação persistente, recessão dramática e trágico desemprego. Os sobressaltos políticos de Brasília anunciavam dias ainda mais difíceis. Havia quem se desencorajasse, havia quem baixasse os braços.
Partimos para o contra-ataque. Seguindo a tradição da nossa terra, não esperamos passivamente que as coisas melhorassem. Foram três anos cortando despesas, acordando cedo e trabalhando duro. Três anos pegando no pesado.
Valeu a pena? Que cada um tire sua conclusão. Comecemos pelo essencial. Apesar de todas as dificuldades, a mortalidade infantil caiu nesses três anos em nosso Estado. Era de 31,41% para 1.000 crianças nascidas vivas, caiu para 26,51%. Em minha opinião, não há vitória que se compare.
A decadência da escola pública era considerada por muitos como uma fatalidade. Provamos o contrário. Conseguimos os menores índices de repetência e evasão escolar nos últimos 20 anos. Criamos as escolas-padrão. Estamos nivelando pelo alto.
Com a queda de quase 20% na arrecadação do ICMS e sem qualquer ajuda do governo federal, dizia-se que nossa política habitacional seria inviável. Construímos mais de 85 mil casas populares. Nossa média até agora foi de uma casa pronta e entregue a cada 20 minutos, nas 24 horas do dia, 30 dias por mês. E vamos acelerar. Até o final do governo completaremos 200 mil. É mais do que a soma de todas as casas populares entregues nos últimos 30 anos em São Paulo.
Afirmava-se que o nosso crédito exterior estava esgotado. E, no entanto, conseguimos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento um empréstimo de US$ 450 milhões para a despoluição do Tietê, para citar apenas um dos muitos financiamentos obtidos. A poluição já diminuiu em um terço e deverá cair pela metade até o final do ano.
Mas isso não é tudo. Quem não se lembra das afirmações derrotistas sobre a nossa indústria automobilística, que seria incapaz de resistir à concorrência dos importados? O ano de 1993 bateu todos os recordes de produção e venda. E 94 vai pelo mesmo caminho. O mês de fevereiro passado foi o melhor mês de fevereiro da indústria automobilística desde a sua implantação no Brasil.
E para que os que ainda têm alguma dúvida sobre a capacidade de trabalho e de realização dos paulistas, lembrarei que 1993 foi o ano da grande retomada das obras nas usinas da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), há muito paralisadas. E que exatamente hoje, dia 15 de março, estamos recebendo em nosso Estado a visita dos presidentes da República de vários países. Eles vêm assistir à inauguração da eclusa de Três Irmãos, também realizada pela Cesp, junto à hidrovia Tietê-Paraná. É uma obra gigantesca que já está revolucionando os transportes e o comércio em cinco Estados brasileiros e em todos os países do Cone Sul, obra de ambições e alcance tão vasto que a maioria das pessoas mal consegue conceber.
Como tudo isso foi possível?
Antes de mais nada, procurei simplesmente ouvir o que as pessoas tinham a dizer. Sendo, como sempre fui, um homem do diálogo, comecei criando o Fórum Paulista de Desenvolvimento, vasto mecanismo de entendimento econômico e social com a presença de todos os setores da sociedade.
Graças a esse entendimento, observações partilhadas há muito por todas as pessoas de bom senso transformaram-se afinal em iniciativas. Sabíamos todos, por exemplo, que o excesso da carga tributária acaba por sufocar a economia com reflexos negativos na própria arrecadação. Tomei então a iniciativa de baixar a alíquota do ICMS para a indústria automobilística, celebrando o histórico acordo entre governo, montadoras e sindicatos que deu um novo impulso para a economia de todo o Brasil. Este acordo também amenizou o problema do desemprego, uma das maiores preocupações de todo o meu governo.
Por outro lado, reservei sempre o grosso do orçamento para as prioridades sociais anunciadas desde o tempo da campanha eleitoral. Procurei agir em profundidade usando o senso comum. Sabemos todos que a construção e reforma de prédios escolares, embora essencial, não resolve o problema do ensino. Assim a grande reforma educacional desencadeada em São Paulo através das escolas-padrão –1.358 implantadas no ano passado– foi baseada essencialmente na melhoria da qualidade.
Sabemos todos, igualmente, que saúde começa com saneamento básico. Que não se poderia falar a sério em higiene pública enquanto o rio Tietê continuasse no descaso em que se encontrava. Que é melhor prevenir do que remediar, que sem água encanada e esgotos, a mortalidade infantil nunca cederia. Só em 1993, a Sabesp investiu US$ 1 bilhão nos 330 municípios em que opera.
Diriam alguns que essa política nem sempre é reconhecida pelas pessoas menos informadas. Que a melhoria do ensino não se percebe de imediato, que as redes de água e esgotos correm por baixo da terra e assim sendo não se transformam imediatamente em votos. É possível que assim seja. Mas não mudo de opinião. Não trabalho para as próximas eleições, trabalho para as próximas gerações. Este é o orgulho e a razão de ser da minha carreira de homem público. Esta é a marca do meu governo.

Próximo Texto: O governo Geisel
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.