São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Globo veicula resposta de Brizola no 'JN'

DA REPORTAGEM LOCAL

A Rede Globo colocou ontem no ar durante o "Jornal Nacional" direito de resposta obtido pelo governador do Rio, Leonel Brizola, após dois anos de disputa judicial. Durante cerca de três minutos, o locutor Cid Moreira leu o texto assinado por Brizola contendoe ataques ao presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, e à própria emissora. Na sequência, o "Jornal Nacional" veiculou reportagem sobre o aumento do número de sequestros no Rio nos últimos dias.
Brizola entrou na Justiça contra a Globo em 92, depois que o "Jornal Nacional" de 6 de fevereiro daquele ano divulgou trechos do editorial que seria publicado no dia seguinte pelo jornal "O Globo", intitulado "Para entender a fúria de Brizola". O governador do Rio, que queria impedir a emissora de transmitir o desfile carioca das escolas de samba naquele ano, era acusado pelo editorial de "O Globo" de sofrer "declínio da saúde mental" e de "deprimente inaptidão administrativa".
Na resposta que foi ontem ao ar, Brizola diz que não reconhece na Globo "autoridade em matéria de liberdade de imprensa" e diz que a emissora teve "longa e cordial conivência com os regimes autoritários e com a ditadura de 20 anos que dominou o nosso país".
Brizola diz ter sido "apontado como alguém de mente senil". Na sequência, argumentou: "Ora, tenho 70 anos, 16 a menos que meu difamador, que tem 86 anos. Se é este o conceito que tem sobre os homens de cabelos brancos, que os use para si". Escrito há dois anos, o direito de resposta não foi atualizado. Hoje Brizola tem 72 anos e Marinho, 88.
Segundo dados preliminares do DataIbope, o "Jornal Nacional" de ontem obteve audiência média de 50 pontos na Grande São Paulo, o que equivale a cerca de 2 milhões de domicílios. Nas últimas semanas, a média alcançada pelo telejornal vem sendo de 45 pontos (cerca de 1,8 milhão de domicílios).
O advogado do governador Leonel Brizola, Arthur Lavigne, no processo em que o governador pediu direito de resposta ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, considerou que a leitura do documento ontem foi "um fato importante" pelo significado que tem o programa.
O advogado afirmou que, como efeito de direito de resposta, o texto lido no "Jornal Nacional", que segundo ele não sofreu qualquer tipo de corte, agradou à defesa do governador Leonel Brizola.
"Foi no mesmo programa em que foi lido o editorial do presidente das Organizações Globo considerado ofensivo pelo governador e com o mesmo locutor, o Cid Moreira", disse. "O grande vitorioso nessa questão foi o Poder Judicário, cosneguindo valer sua decisão sobre o "Jornal Nacional', que tem um poder tremendo", disse Lavigne, 50, em entrevista por telefone ontem à noite. Segundo ele, "foi uma reafirmação da autoridade do Poder Judiciário, o que mostra que até as Organizações Globo respeitam as decisões judiciais."
O direito de resposta de Brizola percorreu um longo caminho no Judiciário até ser veiculado. Brizola entrou com ação na Justiça Criminal por ofensa à sua honra e ganhou. A Globo recorreu ao TACrim (Tribunal de Alçada Criminal), que confirmou a decisão de primeira instância.
A Globo voltou a recorrer, desta vez diretamente ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). O juiz relator, Luiz Vicente Cernicchiaro, manteve a decisão do TACrim. Na semana passada, a emissora recorreu da própria decisão do STJ. Perdeu novamente. O STJ nunca chegou a apreciar o mérito da decisão da Justiça do Rio, apenas examinou se era pertinente ou não o recurso da Globo.
Lavigne declarou que o processo do governador Leonel Brizola continua para conseguir que o texto seja agora publicado pelo jornal "O Globo", o que ainda está correndo na Justiça. Segundo o advogado, não há prazo para a conclusão do processo.

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