São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Relator abandona o cargo e dá primeira vitória à equipe

FERNANDO GODINHO; VIVALDO DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A equipe econômica conseguiu sua primeira vitória nas negociações em torno da MP (medida provisória) que criou a URV. Pressionado pelos partidos governistas –PMDB, PFL e PSDB– e pelo próprio ministro Fernando Henrique Cardoso (Fazenda), o deputado Gonzaga Mota (PMDB-CE) abandonou ontem a relatoria da MP, impedindo que ela fosse votada e alterada pela Comissão Mista do Congresso.Alegou que seu pai, Fernando Mota, estava muito doente em Fortaleza, e viajou pela manhã para o Ceará.
Como não foi apreciada pela Comissão Mista, a MP e suas 306 emendas terão de ser votadas pelo plenário do Congresso até o próximo dia 30. As centrais sindicais já preparam uma greve geral no próximo dia 23 para forçar a votação da MP. FHC e as lideranças governistas querem impedir esta votação, esvaziando a sessão. A equipe econômica prefere reeditar a MP, sem alterações, depois do dia 30.
Mota acatou as reivindicações das centrais sindicais e seu relatório determinaria a reposição de eventuais perdas provocadas pela conversão à URV. Após se reunir com FHC e com a liderança do PMDB, Mota voltou atrás e preferiu não concluir seu relatório.
Na tarde de ontem, o presidente da Comissão, senador Odacir Soares (PFL-RO), tentou nomear um novo relator para a MP. Antecipando sua estratégia, o governo esvaziou o plenário da Comissão e Soares não teve quórum para eleger um novo relator. A Folha apurou que Soares havia aprontado um relatório que atendia às posições das centrais sindicais.
Odacir Soares não escondia sua irritação com a inesperada viagem de Gonzaga Mota. "Sua postura está errada. Se ele não queria apresentar o relatório, era melhor não ter aceito o cargo", disse. "Não posso admitir que ele tenha viajado sem deixar seu relatório", criticou o presidente da CUT, Jair Menegueli. "Ele fugiu da raia", afirmou o deputado Maurício Calixto (PFL-RO), membro da Comissão.
Por volta do meio-dia, Soares, deputados do PT e os presidentes das centrais sindicais se reuniram com o presidente Itamar Franco. Foram surpreendidos pela presença dos ministros FHC e Sérgio Cutolo (Previdência), que já estavam reunidos com Itamar. O ministro Walter Barelli (Trabalho) foi convocado diretamente por Itamar, mas não deu qualquer opinião.
Os sindicalistas encaminharam uma proposta de reposição das perdas salariais até a emissão do real. "Isto eu não aceito, mas o presidente pode aceitar", afirmou FHC. Itamar pediu ao ministro que, até o final desta semana, apresente um parecer sobre a proposta dos sindicalistas. "Posso fazer isto por escrito e assinado, se for o caso", respondeu FHC.
Cutolo começou a apresentar o custo adicional com o aumento do mínimo para 100 URVs e reposição das perdas salariais dos servidores públicos. Antes de chegar ao total de US$ 19 bilhões, foi interrompido pelo deputado Paulo Paim (PT-RS). "Não vamos nos perder em considerações técnicas. Estes números nós já conhecemos e vamos procurar uma solução política", apelou Paim. Cutolo foi socorrido por FHC. "Ninguém gosta dos números do ministro Cutolo porque sabem o quanto vai custar esta brincadeira", afirmou.

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