São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994 |
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Desenhos de Glauber são expostos no Rio Filmes, vídeos e palestras sobre o cineasta completam evento SÉRGIO AUGUSTO
Para não deixar que só a eclosão do movimento militar seja lembrada sob as águas deste março, o Centro Cultural Banco do Brasil abriu sexta-feira uma mostra em homenagem ao nosso Stravinsky da câmera, com todos os seus filmes brasileiros e europeus, menos o curta "Di Cavalcanti", cuja exibição a família do pintor mantém proibida. Com o título de "Glauber Rocha, Um Leão ao Meio-dia" e tendo como curador o crítico José Carlos Avellar, inclui, além dos filmes e vídeos televisivos do cineasta, quatro palestras (dos estudiosos Ismail Xavier, Sylvie Pierre e Georges Ullman, e dos cineastas Carlos Diegues e Eduardo Escorel) e uma mostra de desenhos, sua maior curiosidade. Glauber gostava de desenhar, desde pequeno, como muita gente. Não investiu nessa área com o afinco necessário, mas o que sabia rabiscar deu para o gasto dos "story boards" de seus filmes. Que ninguém espere traços equivalentes aos de Eisenstein, Fellini e Kurosawa. Os desenhos de Glauber são toscos, infantis mesmo, boa parte influenciada por Picasso. Num e noutro, plúmbeos borrões a El Greco, em especial em torno de Cristo, uma das idéias fixas do messiânico baiano, também fascinado por Lampião e Napoleão. Não mereciam o olhar público se não fossem de quem são. Em todo caso, seria curioso ver o que mais ele fez antes e depois de 65, a safra da maioria dos trabalhos. Recepcionando os visitantes, o original de um bilhete despachado da prisão onde ele foi parar depois de uma manifestação considerada subversiva pelos militares, diante do hotel Glória, ao lado de mais sete personalidades, entre as quais Antonio Callado, Carlos Heitor Cony, Joaquim Pedro de Andrade, Marcio Moreira Alves e Flavio Rangel. "Aqui a cela está boa", escreveu Glauber. "Foi formado um governo e eu fui eleito povo. Joaquim é o ministro da Cultura (...) o Cony fala muito e o Marcito ronca terrivelmente. O Callado faz conferências sobre romance e Flavio sobre teatro". Junto, um desenho do "octeto do Glória". Muitas coisas mais há para se mostrar e, eventualmente, editar em livro. Glauber, morto em agosto de 1981, deixou uns cinco romances inéditos, uma dezena de roteiros para cinema e televisão, artigos a granel, 800 poemas e 600 desenhos. Sua mãe tem tudo guardado num museu mantido a duras penas no bairro de Botafogo. Texto Anterior: Contrato; Doação; Mostra Próximo Texto: Gal Costa, Djavan e Gil homenageiam baixista Índice |
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