São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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PT recua e pode tirar aborto de programa

DA REPORTAGEM LOCAL

O PT já admite retirar do programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva propostas polêmicas como a descriminalização do aborto e o reconhecimento de direitos civis para casais homossexuais, como herança, partilha de bens e benefícios da Previdência Social. A inclusão desses temas na versão preliminar do programa desagradou parlamentares petistas ligados a movimentos religiosos e a ala progressista da Igreja Católica, onde o PT é visto com simpatia.
"No programa final só vai constar o que cabe ao Executivo", disse Lula. No entanto, ele defendeu na noite de anteontem, em debate com estudantes da PUC, a descriminalização do aborto. "Essa é uma questão de saúde pública, já que quem não tem dinheiro para pagar uma boa clínica se fura com uma agulha de tricô". Sobre os homossexuais, afirmou que o tema não pode ser tratado com preconceito: "É uma opção de vida e não uma doença".
A declaração do pré-candidato do PT sobre o programa de governo agrada aos deputados do partido ligados à Igreja. "Não é o caso de temas como o aborto constarem de um programa de governo", diz o deputado Hélio Bicudo (PT-SP), que é contra o aborto.
"Isso não significa que não deva haver um atendimento às mulheres vítimas dessa prática. Mas trata-se de questão a ser tratada pela legislação penal", acrescenta.
O vereador Francisco Whitaker (PT-SP), candidato a deputado federal, pensa de forma semelhante. Segundo ele, questões como o aborto não têm que ser discutidas pelo governo e sim por toda a sociedade. "A discussão desses temas em um programa de governo é desnecessária e inoportuna, até porque no próprio PT existem posições contrárias".
A deputada Irma Passoni (PT-SP) eleita pelas bases do partido na Igreja Católica classificou como "inadmissível" a inclusão da descriminalização do aborto na versão preliminar do programa.
Os parlamentares que têm base em movimentos religiosos entendem que a inclusão do aborto na versão preliminar do programa de governo de Lula, ainda que venha a ser retirada do programa definitivo, será usada como munição contra o PT pelos adversários de campanha. "Essa questão vai dar munição para a direita, que quer derrubar a candidatura de Lula", disse a deputada evangélica Benedita da Silva (PT-RJ).
Esses parlamentares, candidatos à reeleição, admitem também que suas próprias campanhas sofrerão algum tipo de desgaste em razão da inclusão desses temas polêmicos no programa preliminar de governo. "Sem dúvida, esses temas serão usados contra nós", disse Whitaker. O vereador afirmou que terá que explicar com detalhes a seus eleitores que nem todo o PT é favorável à descriminalização do aborto.

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