São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Selva da Guatemala esconde capital maia

RICARDO TELES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando em 1696 o padre Avendano, perdido, faminto e cansado, encontrou as ruínas de Tikal, tão intactas quanto se mantiveram durante os oito séculos que separaram sua decadência da chegada espanhola, não imaginava estar diante da maior das cidades maias.
O episódio somente veio à tona em 1848 com a redescoberta feita por um seringueiro, intrigado com a presença de alguns morros solitários na vasta planície do Petén, na realidade, pirâmides de até 70 metros de altura, encobertas pela densa selva. As escavações só começaram cem anos depois. Ainda hoje, cientistas trabalham nos 50 quilômetros quadrados e mais de 4.000 estruturas que pertencem ao sítio arqueológico.
Tikal é um excelente exemplo de um aproveitamento racional adaptado ao meio físico. A Grande Praça, o coração da cidade que já foi centro administrativo e religioso, é formada por um conjunto de templos, pirâmides e acrópoles. Esculturas relatam algumas passagens da história. Hieróglifos de mais de mil anos talhados em madeira mostram a preocupação com o refinamento estético. De lá pode-se andar pelos quatro cantos e encontrar uma cidade completa e organizada: mercados, palácios e quadras para o então esporte oficial, o jogo de pelota.
Aliás, a caminhada é outra grande atração, uma das melhores maneiras de se conhecer uma floresta tropical. Houve o bom senso de se desmatar somente onde antes havia ruas calçadas e aquedutos. No parque estão catalogadas 220 espécies de pássaros. É a melhor área para se encontrar um Quetzal, uma ave rara azul brilhante, penas arrepiadas sobre a cabeça e uma longa cauda. Também é um dos últimos refúgios para araras, tucanos e pavões na América Central.
"El mundo viejo", como é conhecido pelos habitantes da região, destoa da pobreza local. Declarado patrimônio histórico e natural da humanidade em 1979, Tikal ganhou uma boa infra-estrutura e recebe turistas de todas as partes. Enquanto a Europa vivia na "Idade das Trevas", este povo já utilizava um calendário tão exato quanto o nosso e dominava a matemática. Astrônomos maias descreviam com perfeição o caminho dos planetas e previam eclipses do sol e da lua. Uma sociedade agrária, baseada em avançadas técnicas agrícolas e um sistema de irrigação que sustentava uma população 20 vezes maior que a atual.
Estudos recentes mostram que Tikal teria sido o berço desta civilização e sua capital, para desaparecer sem deixar indícios da razão.

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