São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 1994
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O otimismo sem motivo

JANIO DE FREITAS

A equipe econômica está convencida de que os aumentos absurdos de preços são apenas uma onda e que os oligopólios, os poucos grupos empresariais que controlam setores inteiros da indústria, logo passarão a determinar os seus preços pela URV.
Por esta conclusão otimista das discussões sobre o problema dos preços, entende-se a série de pretextos da equipe para protelar a medida provisória e depois o projeto de lei, esperados pelo presidente Itamar Franco, com punições rigorosas para aumentos abusivos. E se confirma que o palavrório do assessor de preços da Fazenda e do superintendente da Sunab, Milton Dallari e Celsius Loder, não passa mesmo de encenação para iludir a opinião pública indignada.
A expectativa de novo comportamento dos oligopólios não leva em conta a natureza do oligopólio nem, sequer, a própria experiência da equipe. Os três primeiros efeitos que a equipe esperava da URV foram frustrados, rapidamente, pelos aumentos explosivos dos preços, cuja responsabilidade os autores do plano de estabilização atribuem aos oligopólios.
Para começar, era convicção deles que, lançada a URV, haveria uma queda forte da inflação, provocada pela desnecessidade de aumentos decorrentes do temor de congelamento e tabelamento. Outra convicção era a da ocorrência de um "resíduo inflacionário" saudável, porque a URV levaria, de imediato, ao realinhamento dos preços, ou seja, à sua adequação ao valor do produto (com preços "alinhados", um terno comum deixa de custar o preço de uma geladeira, por exemplo). Por fim, quando o ministro Fernando Henrique, na passagem de janeiro para fevereiro, comunicou à equipe que não abria mão de lançar a URV até 1º de março, os prazos então idealizados supunham que em 30 dias, ou até o 2 de abril em que um candidato tem que deixar o cargo, haveria condições preliminares para criação da nova moeda, o real.
Os preços em geral, e não só dos oligopólios, frustraram as três convicções. Mas sem efeito sobre a equipe econômica, pelo que indica sua nova convicção.
Vale anotar
Entre as muitas possibilidades de desdobramento na disputa pela Presidência, é conveniente incluir mais uma. Como se tem visto, a manobra paralela de Quércia e Fleury ocupou o espaço em que se travava a discussão dos peemedebistas em torno do seu candidato. Mas não eliminou o descontentamento com a perspectiva de ter Quércia como candidato, nem fortaleceu Fleury. O impasse peemedebista permaneceu, portanto.
Sabendo-se que Quércia e Sarney estão aliados há muito tempo, o que pode estar em curso é a preparação de condições para que Sarney seja sugerido, de repente, como a figura conciliadora entre quercista e antiquercistas.
Sarney não compareceu às reuniões de peemedebistas que discutiram o problema de uma candidatura. E já avisou que estará em Paris quando, daqui a dez dias, a cúpula do partido discutirá o tema outra vez. Não quer se envolver no confronto. O que, em política, significa que quer se preservar. E isto nenhum político faz à toa.

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