São Paulo, sábado, 19 de março de 1994 |
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Entenda os efeitos do acordo
FERNANDO RODRIGUES
O governo brasileiro está negociando e renegociando sua dívida externa desde 1983, quando o país sentiu que não poderia pagar da forma negociada pelos governos militares nos anos 70. A fase atual teve início durante o governo Collor (90-92) e ainda não terminou. Desde 89, no final da gestão de José Sarney, o governo brasileiro é visto como caloteiro no exterior. Não paga suas contas em dia. Em várias ocasiões, simplesmente não pagou. Ao fazer um acordo, o governo começa a recuperar crédito no exterior. É como um cliente que procura o gerente do banco para saldar um compromisso antigo. Ou alguém que vai ao SPC para tentar limpar o nome. O acordo é pré-requisito básico para um país capitalista –ou que tenta ser capitalista, como o Brasil– voltar a crescer. Na economia liberal deste final de século, uma nação não pode se dar ao luxo de esnobar o dinheiro de fora. Se tudo der certo e o ministro Fernando Henrique conseguir mesmo implementar o acordo da dívida, o principal efeito na vida do cidadão comum será uma maior oferta de empregos, pois a economia seria aquecida. Mas é virtualmente impossível dizer que haverá estabilidade econômica em um país onde a moeda vai mudar, o ministro da Fazenda será candidato à Presidência e a inflação ainda está entre 40% e 50% ao mês. Outro problema adicional é que o Brasil ficou muitos anos com o rótulo de caloteiro enquanto muitos países saíram na frente na corrida para limpar seus nomes. Por essa razão, não vai bastar ao país fazer um acordo e estabilizar sua economia. Terá que convencer os investidores que já estão colocando dinheiro em outros mercados a redirecionar seus planos para cá. Texto Anterior: FMI lava as mãos e não paga para ver Próximo Texto: Preços de papéis ficam estáveis Índice |
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