São Paulo, domingo, 20 de março de 1994 |
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Coquetel põe em risco quem quer emagrecer
AURELIANO BIANCARELLI
A pesquisa –coordenada por Solange Nappo, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Escola Paulista de Medicina– mostra que de 107 médicos consultados em São Paulo e Recife, 92 receitaram drogas consideradas psicotrópicas. Nem mesmo "pacientes" abaixo do peso escaparam das receitas (veja texto na página). Na grande maioria dos casos, os médicos prescreveram misturas de três a seis substâncias através de fórmulas magistrais preparadas em farmácias. Dois deles receitaram misturas de 17 princípios ativos. A mistura de psicotrópicos pode trazer sérios riscos à saúde. Há duas semanas, a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná proibiu por tempo indeterminado a "prescrição médica e a formulação farmacêutica de produto magistral destinado a emagrecimento contendo duas ou mais substâncias químicas", entre elas as anfetaminas e ansiolíticos, que provocam dependência. Essa também é a sugestão da subcomissão do Ministério da Saúde. Segundo Solange Nappo, os médicos misturam substâncias de forma que uma se oponha aos efeitos da outra. "As pessoas vão ao médico para emagrecer e saem de lá com remédios que mexem com o coração, os rins, a tireóide, o estômago e a cabeça", diz Solange. Segundo ela, receita-se um anorexígeno (anfetamina) para a pessoa perder o apetite. Como o remédio estimula o sistema nervoso, causando ansiedade e irritação, mistura-se um benzodiazepínico (antidistônicos). A anfetamina também aumenta a pressão arterial e causa prisão de ventre, então o médico acrescenta um anti-hipertensivo e um laxante. Junta-se ainda um diurético, um sal de potássio e um hormônio de tireóide. Como este coquetel irrita o estômago, acrescenta-se um antiulceroso. Finalmente (em alguns casos a lista continua), junta-se alguma planta como boldo ou cáscara sagrada "para dar a imagem de produto natural". Segundo a pesquisa, alguns médicos misturam duas drogas do tipo anfetamina ou mesmo dois ansiolíticos, dobrando os riscos. O consumo de medicamentos tipo anfetamina no Brasil saltou de 7,7 toneladas em 88 para 23,6 toneladas em 92. Segundo o professor Elisaldo Carlini, 63, diretor do Cebrid, esta quantidade significa 1,74 milhão de doses terapêuticas diárias. Ou seja, são quase 2 milhões de pessoas no país consumindo anfetaminas todos os dias. Texto Anterior: Frequentadores querem polícia longe de esquina Próximo Texto: Pacientes têm histórias frustradas Índice |
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