São Paulo, terça-feira, 22 de março de 1994
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Desperdício e tecnologia

RUBENS TELECHEA CLAUSELL

A Folha realizou debate sobre "Desperdício e má-aplicação da tecnologia", dentro do projeto Tempos Modernos em 10 de janeiro último. Técnicos abordaram formas de desperdícios nacionais. Quanto à agricultura, as menções foram poucas. Lembramos o que ocorre na indústria de conservas.
Cerca de 40% da produção de frutas nacionais se perde do pomar até o consumo ou exportação. Percentagem pouco menor é perdida nas hortaliças encaminhadas ao mercado e à indústria de processamento. São restos de cenoura, ervilha, tomate, batata doce e outros.
Recentemente se estabeleceu a indústria de processamento da batatinha, que gera grande volume de resíduos, de alto valor na alimentação animal. Todos os resíduos de alimentos têm aplicação, com tecnologia definida, que evita seu destino aos "lixões", além dos inconvenientes para o meio ambiente.
No Brasil, já dispomos de equipamentos para o tratamento térmico de resíduos e sua utilização na alimentação de suínos e bovinos. Com o tratamento, é produzido rações líquidas, distribuídas em tubulação plástica. O amido é gelatinizado, permitindo o completo aproveitamento pelos animais. Falta, entretanto, análises dos resíduos, para o cálculo de rações para as diversas espécies e idades animais. Até agora há apenas tabelas estrangeiras, que podem ter outros valores para o resíduo produzido em nossas condições de solos e clima. A Secretaria da Agricultura já determinou que o ITAL analise os resíduos.
Este aproveitamento é importante para a suinocultura próxima à indústria alimentar, garantindo sua rentabilidade. Em fazenda em Jundiaí, interior de São Paulo, chega à 30% a economia no arraçoamento, item de maior custo da carne suína. No local, é coletado o esterco suíno, por tubulação. Separada em peneira fixa, a parte semi-sólida é encaminhada à produção de "composto" para uso em pomar. A fração líquida é destinada a pastagens. A fazenda, assim, deixou de poluir.
Neste mesmo propósito, indústria processadora de goiaba de Taquaritinga cogita aproveitar 15 toneladas diárias de sementes e rejeitos na terminação de bovinos. Será a primeira unidade de alimentação cozida de bovinos a ser distribuída por "pipe line".
Faltam ainda alguns dados -que poderiam ser obtidos por trabalho experimental-, como a determinação do valor das rações termicamente tratadas na alimentação de suínos e bovinos. Sabemos da Europa que cozimento do amido aumenta em 18% sua assimilação e que estas rações podem gerar economia até de 40%. Entre as informações necessárias está o levantamento da quantidade de resíduos aproveitáveis de toda a indústria de alimentos e dos incubatórios de São Paulo. Assim, a Secretaria da Agricultura estaria em condições de iniciar a Campanha do Aproveitamento dos Resíduos Alimentares.

RUBENS TELLECHEA CLAUSELL é engenheiro agrônomo e zootecnista.

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