São Paulo, terça-feira, 22 de março de 1994
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Bebê aprende inglês ainda na fralda

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Já é consenso entre especialistas que, quanto mais jovem for a pessoa, mais fácil é aprender uma segunda língua. Pesquisas feitas em países bilíngues –como Canadá, onde se fala inglês e francês– mostram que bebês que aprendem duas línguas ao mesmo tempo não apresentam qualquer problema quando adultos. Pelo contrário, falam os idiomas com fluência e sem sotaque, aprendem com mais facilidade outras línguas e, inclusive, conteúdos que exigem raciocínio abstrato, como a matemática.
Em São Paulo, cresce o número de escolas que ensinam inglês para crianças, que às vezes usam fraldas. A Escola Cidade Jardim, conhecida como Play Pen, e a A Way With Words são exemplos disso: aceitam crianças desde um ano de idade e oferecem atendimento maternal, de jardim de infância e pré-escolar, tudo falado em inglês. Preparam também para escolas que seguem modelos de ensino inglês ou americano, como a St. Paul's (britânica), a Chapel e a Graded (americanas), que pegam alunos a partir dos 3 anos. Há também as escolas que só oferecem cursos de inglês para os não-alfabetizados, como a Red Balloon.
"Quando a criança tem um ano e meio ou dois, às vezes há um atraso de três a quatro meses no início da fala", diz a diretora da Play Pen Guida Machado. "Para a criança ficar fluente na língua, o tempo é de no máximo dois anos."
Fluente e sem sotaque: "A fala tem uma parte muscular, da boca e garganta, e envolve a frequência da língua", diz a pesquisadora de bilinguismo do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Marina Mac Rae. Daí ser mais difícil para os adultos, que já têm a musculatura moldada para uma língua, falarem outra sem sotaque. Para Marina, "quanto mais cedo a criança for exposta a uma segunda língua, melhor".
"A criança tem a capacidade de aprender a língua inconscientemente", afirma Lynn Mario Menezes de Souza, também da Letras Modernas da USP. Segundo ele, há poucas pesquisas sobre o ensino da segunda língua para crianças. "O que se aprendeu no Canadá é que, quando a língua em si não é o conteúdo do curso, os resultados são melhores." Assim, o jovem estaria mais motivado se a nova língua apresentada fosse um meio de integração com a coletividade –para brincar com outras crianças, por exemplo. Por outro lado, estudar inglês pois no futuro isso será é uma motivação fraca.
Na aprendizagem de duas línguas, a criança passa por várias fases. "No começo, mistura palavras das duas línguas em uma frase", conta Janet Carol Salmona, diretora da A Way With Words. "A cor do vestido é green", responde Rodrigo, 3, à pergunta "What color is her dress?", de uma professora da Red Balloon.
Depois dessa fase, onde palavras são incorporadas sem distinção de língua, o jovem separa vocabulários, mas usa regras iguais para elaborar frases. O aluno brasileiro tende a usar o adjetivo depois de substantivo, mesmo em inglês, onde ocorre o inverso: "book black", e não "black book". Depois, percebe que os universos são distintos e tenta entender suas características. "Todo pai fala inglês?", indaga um aluno cujo pai só fala inglês e, a mãe, português.

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