São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 1994
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Christian abriu mão da McLaren

EDGARD ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Christian Fittipaldi, 23, está convencido que deu um salto de qualidade após duas temporadas na F-1. Ele agora começa vida nova na categoria. Aproveita tudo que aprendeu na Minardi e aplica na Arrows, seu novo time. Seu carro ainda tem problemas, especialmente no câmbio.
Christian garante que não está assustado com os obstáculos. Ele poderia ter assinado como terceiro piloto da McLaren, tinha o compromisso de Ron Dennis de que se Alain Prost não corresse seria o companheiro de Hakkinen, mas optou por não se submeter ao risco de ficar um ano apenas fazendo testes. No último sábado, ao chegar a São Paulo, falou com exclusividade à Folha.
Folha - Quando o Gianni Morbidelli saiu da Minardi, você disse que o clima estava melhor. Voltar a correr com ele o deixa feliz?
Christian Fittipaldi - Não vou negar que houve alguns problemas, principalmente no final de 92. Eu entendo que ele estava sob muita pressão. Era o segundo ano dele de F-1, precisava andar bem. Eu tinha acabado de marcar meu ponto no Japão e ele não tinha feito nada. O que houve entre a gente na Austrália foi mais uma coisa de nervosismo. Você dedica uma vida inteira para isso e, de repente, por causa de resultados sua carreira pode terminar.
Folha - Como você define o Morbidelli?
Christian - Fiquei chateado com ele, mas três dias depois a gente já estava se falando, sem nenhum problema. Na equipe, ele ajuda porque é muito rápido e trabalha bem com o carro. É uma pessoa engraçada.
Folha - Existe muita diferença entre trabalhar com italianos e ingleses?
Christian - Me adapto mais aos ingleses que têm o 'approach' completamente diferente. Eles trabalham às vezes de uma maneira mais lenta, mas são mais profissionais. Com os italianos, você vai bem e vira herói da noite para o dia. Se vai mal, é a pior pessoa do mundo.
Folha - Você tinha proposta da McLaren. Por que optou pela Arrows?
Christian - Na McLaren, eu ia estar esperando até agora para saber quem guiaria o segundo carro. De repente poderia ficar fora da temporada.
Folha - É melhor ser piloto de equipe menor do que "test driver" de uma grande?
Christian - Não tem nada como a experiência que você ganha em corrida. Sou muito jovem e acho que seria muito arriscado assinar um contrato de testes na McLaren sem nenhuma garantia de correr.
Folha - O Mika Hakkinen hoje é titular. Foi um risco?
Christian - O Mika teve muita sorte. O Senna saiu da McLaren e o Andretti não andou nada.
Folha - O carro foi testado ou faltou alguma coisa?
Christian - A gente fez bastante teste, mas pouca quilometragem porque o carro quebrou muito. Testamos uns dez ou doze dias no total. Isso pode ser um pouco negativo para a estréia.
Folha - O que falta para a consolidação da sua imagem como piloto na F-1?
Christian - Uma oportunidade melhor e eu saber aproveitá-la da melhor maneira possível. Acredito que aprendi muito com a Minardi, que sempre deu o máximo dela por mim. Mas faltou um pouco de carro. Meu futuro ainda vai ser melhor e bem mais aberto.
Folha - O acidente de 93 em Monza está superado?
Christian - Aconteceu tão rápido que eu nem lembro direito o que houve. Eu gosto da F-1 do mesmo jeito que gostava antes e tenho enorme prazer quando sento dentro do carro.
Folha - Na Minardi, seu pai (Wilsinho) opinava bastante. Vai ser assim na Arrows?
Christian - Ele opiniou um pouco no começo de 92. Em 93, não opinava, principalmente no lado técnico. Ele trabalhava para arrumar patrocinadores. Na Arrows, as decisões que tomamos no carro são do Christian e engenheiros.
Folha - Quando você foi afastado da Minardi, seu pai informou que entraria na Justiça. Houve acordo?
Christian - Houve acordo. Bastante satisfatório, não bom para ambas as partes. Enfim, ficou por isso mesmo.
Folha - O nome Fittipaldi é difícil de carregar?
Christian - Sinceramente, acho que não pesa muito. Todo mundo encara a F-1 de maneira muito profissional. Esquecem esse lado do Christian filho do Wilson e sobrinho do Emerson. Lá é o Christian, o piloto.

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