São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
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Pop à brasileira revela três caras novas

CARLOS CALADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem disse que a música popular brasileira não se renova? Três cantores-compositores, com discos lançados discretamente no final de 93, demonstram competência e fôlego para disputar seu espaço entre os artistas estabelecidos na MPB. Apesar de evidentes diferenças de estilo, Renata Arruda, Edmon e Celso Fonseca têm algo em comum: a marcante influência da música pop.
"O sucesso pode demorar, mas ele chega se você fizer tudo direito", aposta o carioca Edmon, 29. Depois de ganhar o prêmio Sharp de música como "revelação pop-rock" de 1992, o cantor e compositor lançou no final do ano passado o maxi-single "Edmon" (Polygram), que entre as cinco faixas inclui "Toda Noite" (de Torcuato Mariano e Bernardo Vilhena) –tema da novela (Olho no Olho". Segundo a gravadora, o álbum sai até o final de agosto.
Com uma voz privilegiada, revelada quando frequentava uma igreja evangélica no bairro carioca de Vila da Penha, ainda garoto Edmon preferiu os discos dos pais à TV ou aos fliperamas. Cantores clássicos da soul music, como Aretha Franklin, Marvin Gaye, Stevie Wonder e Chaka Khan, foram não apenas os primeiros ídolos musicais de Edmon, mas também seus mestres, marcando definitivamente seu estilo vocal.
"Acho legal cantar dessa forma", diz o carioca, afirmando sua personalidade musical. "Sempre aparece alguém dizendo que eu deveria cantar rock, salsa, MPB mais tradicional ou coisas assim. Mas hoje eu já tenho jogo de cintura para saber que não é por aí. Toda minha informação musical vem do soul, do pop negro", justifica, dizendo que jamais cantaria algo com que não se identificasse. "Não estou preocupado com o sucesso fácil", diz.
Personalidade também não falta à cantora paraibana Renata Arruda, 26. Ao receber um elogio público de Elizeth Cardoso, em 1987, a garota decidiu trocar uma bem-sucedida carreira de tenista pela de cantora. Começou percorrendo todo o circuito de casas noturnas e bares de Brasília, onde ganhou prêmios como revelação, até decidir se radicar no Rio, em 91. "Sou uma cantora de MPB que aprendeu a linguagem pop. Meu estilo é a MPB pop", afirma, como autodefinição.
Orientada pela experiência do produtor Marco Mazzola, Renata começa divulgar só esta semana seu primeiro álbum, "Traficante de Ilusões" (MZA/Warner), que tem a faixa "Sangue Latino" (de João Ricardo e Paulinho Mendonça) incluída na novela "Fera Ferida". As perspectivas da garota são invejáveis: além do show que fará em julho no Montreux Jazz Festival (Suíça), ela acaba de fechar contrato com o poderoso empresário Manoel Poladian.
"Algumas pessoas já disseram que eu sou sortuda por estar com o Mazzola e o Poladian, mas elas não sabem que houve muito trabalho antes disso", diz Renata, lembrando situações nas quais chegou a pensar em desistir da carreira. Uma delas, com um produtor que prefere não identificar, resultou na reveladora composição que fecha seu álbum: "A Resposta É Não".
Carreira solo
Conflitos com produtores nunca foram problemas para o carioca Celso Fonseca, 37, que apesar da longa experiência ainda não é reconhecido entre o grande público. Autor de sucessos gravados por cantores como Gal Costa, Maria Bethânia e Ney Matogrosso, desde a década passada Celso também frequenta com sua guitarra gravações e shows de vários medalhões da MPB. Com o lançamento de seu segundo álbum-solo ("O Som do Sim", pelo selo Natasha), Celso pretende investir mais na carreira de solista.
"No fundo, eu sempre fui 'solo'. Já cheguei a viajar com Gilberto Gil, Djavan e Milton Nascimento num mesmo ano, sem fazer parte da banda de um ou de outro", diz Celso, ressaltando que não pretende alterar seu perfil musical. "às vezes me perguntam se quero deixar de ser instrumentista para virar cantor. Jamais me considerei um cantor. A voz é só mais um elemento para expressar minha música", explica.
Com um novo álbum planejado para sair no segundo semestre ("Sorte", dividido com o compositor Ronaldo Bastos, seu parceiro), Celso acha que está na hora de "limpar as gavetas". "Sou compulsivo. Componho e toco o tempo inteiro", diz, calculando ter quase cem canções inéditas.

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