São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
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'Topa Tudo' arranha imagem de advogado

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em junho de 91, o advogado Mario Jorge da Costa Carvalho, 32, se deparou com um problema insólito. Estava usando um telefone público na avenida Timóteo Penteado, centro de Guarulhos (SP), quando dois homens se aproximaram e acionaram uma britadeira. O barulho da máquina não permitia que Carvalho continuasse a conversa.
"Pedi que os homens interrompessem o trabalho por uns minutos porque precisava terminar a ligação", lembra o advogado. "Eles concordaram sem maiores reclamações. No entanto, assim que voltei para o telefone, a britadeira recomeçou. Novamente, pedi que parassem. Os dois homens me deram razão. Mas, por incrível que pareça, reiniciaram a barulheira logo em seguida."
A cena se repetiu mais uma ou duas vezes. "Tive certeza de que estavam querendo me irritar, só não entendia por quê. Desisti da ligação, bati boca com os homens e fui embora."
Três meses depois, o analista de sistemas Oriovaldo Marsili, vizinho de Carvalho, avisou que acabara de vê-lo no "Topa Tudo por Dinheiro". "O programa me pregou uma peça. Atores do SBT se disfarçaram de operários e armaram aquela confusão da britadeira. A emissora gravou a cena às escondidas, sabendo que iria exibi-la em rede nacional. O país inteiro se divertiu às minhas custas", afirma o advogado.
Ele precisou aguentar muita gozação por causa da "armadilha" em que caiu. "Tenho colegas que ainda hoje me chamam de Mario Britadeira ou Mario Quebra-Pedra. Há outros que fazem gracinhas do tipo: 'eis o advogado que topa tudo por dinheiro'."
Carvalho entrou com uma ação contra o SBT na 1ª Vara Cível de Guarulhos em setembro de 91. O processo ganhou o número 1690/91. "Quero pelo menos US$ 180 mil de indenização", avisa o advogado. "A 'brincadeira' da emissora arranhou minha imagem profissional."
No fim de 93, Carvalho venceu o processo em primeira instância. O SBT recorreu da decisão. A sentença definitiva deverá sair ainda em 94.
"Depois de tudo o que me aconteceu", diz o advogado, "declarei guerra contra a câmera indiscreta e demais abusos dos meios de comunicação." Hoje, tem como clientes outras pessoas que se consideram vítimas da TV.
Sombras
O paulistano Eurípedes Moyses, 35, estagiário de Direito, é um dos que contratou Mario Jorge Carvalho. Em agosto de 92, por volta das 14h, Moyses caminhava pelo viaduto do Chá, no centro de São Paulo, quando percebeu que dois jovens o seguiam. "Os sujeitos usavam nariz de palhaço e imitavam todos os meus gestos."
O estagiário não entendeu nada. "Fiquei nervoso. Não sabia o que fazer. Se olhava para o lado, os caras olhavam também. Se corria, eles me acompanhavam. Pensei em agredi-los, mas não deu tempo. Os dois sumiram tão rapidamente quanto apareceram."
O "Domingão do Faustão" mostrou a cena patética em outubro do mesmo ano. "Participei, sem saber, do quadro 'Os Sombras', que o programa exibe quase todas as semanas." Enquanto Moyses fugia da perseguição no viaduto do Chá, uma câmera da Globo o "espionava".
Quase um ano depois, o "Domingão" reprisou as imagens. Foi a gota d'água para o estagiário abrir um processo contra a emissora na 36ª Vara Cível do Fórum Central (SP).
Moyses exige uma indenização de US$ 100 mil. "Não me incomodo de aparecer na televisão –desde que seja de maneira digna. Fazer papel de bobo já é ruim, quanto mais em rede nacional." (Armando Antenore)

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