São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994 |
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'Topa Tudo' arranha imagem de advogado
ARMANDO ANTENORE
"Pedi que os homens interrompessem o trabalho por uns minutos porque precisava terminar a ligação", lembra o advogado. "Eles concordaram sem maiores reclamações. No entanto, assim que voltei para o telefone, a britadeira recomeçou. Novamente, pedi que parassem. Os dois homens me deram razão. Mas, por incrível que pareça, reiniciaram a barulheira logo em seguida." A cena se repetiu mais uma ou duas vezes. "Tive certeza de que estavam querendo me irritar, só não entendia por quê. Desisti da ligação, bati boca com os homens e fui embora." Três meses depois, o analista de sistemas Oriovaldo Marsili, vizinho de Carvalho, avisou que acabara de vê-lo no "Topa Tudo por Dinheiro". "O programa me pregou uma peça. Atores do SBT se disfarçaram de operários e armaram aquela confusão da britadeira. A emissora gravou a cena às escondidas, sabendo que iria exibi-la em rede nacional. O país inteiro se divertiu às minhas custas", afirma o advogado. Ele precisou aguentar muita gozação por causa da "armadilha" em que caiu. "Tenho colegas que ainda hoje me chamam de Mario Britadeira ou Mario Quebra-Pedra. Há outros que fazem gracinhas do tipo: 'eis o advogado que topa tudo por dinheiro'." Carvalho entrou com uma ação contra o SBT na 1ª Vara Cível de Guarulhos em setembro de 91. O processo ganhou o número 1690/91. "Quero pelo menos US$ 180 mil de indenização", avisa o advogado. "A 'brincadeira' da emissora arranhou minha imagem profissional." No fim de 93, Carvalho venceu o processo em primeira instância. O SBT recorreu da decisão. A sentença definitiva deverá sair ainda em 94. "Depois de tudo o que me aconteceu", diz o advogado, "declarei guerra contra a câmera indiscreta e demais abusos dos meios de comunicação." Hoje, tem como clientes outras pessoas que se consideram vítimas da TV. Sombras O paulistano Eurípedes Moyses, 35, estagiário de Direito, é um dos que contratou Mario Jorge Carvalho. Em agosto de 92, por volta das 14h, Moyses caminhava pelo viaduto do Chá, no centro de São Paulo, quando percebeu que dois jovens o seguiam. "Os sujeitos usavam nariz de palhaço e imitavam todos os meus gestos." O estagiário não entendeu nada. "Fiquei nervoso. Não sabia o que fazer. Se olhava para o lado, os caras olhavam também. Se corria, eles me acompanhavam. Pensei em agredi-los, mas não deu tempo. Os dois sumiram tão rapidamente quanto apareceram." O "Domingão do Faustão" mostrou a cena patética em outubro do mesmo ano. "Participei, sem saber, do quadro 'Os Sombras', que o programa exibe quase todas as semanas." Enquanto Moyses fugia da perseguição no viaduto do Chá, uma câmera da Globo o "espionava". Quase um ano depois, o "Domingão" reprisou as imagens. Foi a gota d'água para o estagiário abrir um processo contra a emissora na 36ª Vara Cível do Fórum Central (SP). Moyses exige uma indenização de US$ 100 mil. "Não me incomodo de aparecer na televisão –desde que seja de maneira digna. Fazer papel de bobo já é ruim, quanto mais em rede nacional." (Armando Antenore) Texto Anterior: Tiffany; Polenta; Almôndega Próximo Texto: Emissoras respondem a acusações Índice |
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