São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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PT negocia programa com empresários

GUSTAVO KRIEGER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT negociou parte de seu programa de governo com lideranças empresariais para atrair o apoio político e financeiro de empresários à candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
Em troca da simpatia dos empresários, a direção nacional do PT abrandou suas propostas sobre a negociação da dívida externa, concessão de serviços públicos, privatização de estatais e abertura para investimentos estrangeiros.
Na semana passada, 300 cópias do programa de governo de Lula foram enviadas a grandes e médios empresários, a quem o partido quer atrair.
O PT quer dinheiro dos empresários para a campanha. A avaliação preliminar da direção do partido é que a campanha de Lula vai custar pelo menos US$ 20 milhões.
Para levantar o dinheiro, a coordenação da campanha de Lula determinou a criação de "comitês empresariais" que funcionarão como um esquema paralelo de arrecadação de verbas.
O empresário Oded Grajew, que faz parte da coordenação nacional da campanha de Lula, é o encarregado de organizar a criação destes comitês.
Ele confirma que a estrutura paralela está sendo montada, mas não revela os nomes dos empresários que farão parte destes comitês, alegando que "os empresários não gostam de ser vinculados com campanhas políticas".
Grajew afirma que "o PT aceitará receber doações de empresas de qualquer setor, inclusive empreiteiras, desde que elas não estejam envolvidas em denúncias de corrupção".
Encontros
As negociações de Lula com os empresários começaram em abril do ano passado e se desenvolveram ao longo de pelo menos 20 encontros, coordenados por Grajew.
Ele confirma que "várias das propostas apresentadas por lideranças empresariais nestas reuniões foram adotadas no programa de Lula."
A aproximação entre Lula e os empresários aumentou no segundo semestre de 1993, quando o PT mostrou disposição para ceder em alguns pontos do seu programa.
Hoje, a coordenação de campanha de Lula tem uma fila de quase 100 pedidos de reunião com o candidato, feitos por empresários de todos os setores.
Concessões
Por orientação do próprio Lula, todas as caravanas realizadas pelo Brasil reservam espaço para pelo menos um encontro com empresários. Na passagem da caravana por Uruguaiana (RS), Lula realizou uma reunião fechada com os produtores de arroz, um dos setores que mais combate o PT no Rio Grande do Sul.
Neste encontro, o candidato do PT anunciou uma das concessões aos empresários feitas em seu programa de governo. Prometeu que os assentamentos para reforma agrária só serão realizados em áreas improdutivas.
O anúncio, que agradou os grandes fazendeiros, irritou o movimento dos sem-terra, principal base do partido no interior do Rio Grande do Sul.

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