São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Pragmatismo orienta administrações do PT

Em Minas, prefeitos cortam o ponto e demitem grevistas

ELVIS CESAR BONASSA
DO ENVIADO ESPECIAL A MINAS GERAIS

Em Minas Gerais, a atuação das prefeituras governadas pelo PT revela que, no exercício cotidiano do poder, o partido adota práticas políticas e administrativas pragmáticas.
Minoritários nas Câmaras Municipais, os prefeitos do PT conseguem aprovar seus projetos mediante acordos que envolvem o atendimento de pedidos de obras. Há casos em que os vereadores atendidos são de partidos ditos conservadores.
No trato de questões como greves, as administrações do PT são duras, ao contrário do que reza a cartilha sindical do partido. O prefeitos cortam o ponto e contratam substitutos para os grevistas. Para desinflar as máquinas municipais, não excluem a possibilidade de demitir pessoal.
Minas Gerais é o Estado onde o PT conseguiu mais vitórias nas eleições municipais de 1992: controla 13 administrações, incluindo a capital.
Mesmo em Belo Horizonte, maior vitrine petista no Estado, o partido mostra sua face de "política real". Com apenas seis vereadores petistas em 37, incluindo dois aliados do PV e do PSB, o governo de Patrus Ananias aprovou todos os projetos que considerava prioritários.
Para conseguir essa tranquilidade na Câmara, apesar da mirrada base de sustentação, a prefeitura conta com o apoio do chamado "grupo Independente", doze vereadores de partidos pequenos. Esse apoio é mantido graças ao atendimento dos pedidos feitos ao prefeito. "Enquanto representantes de suas áreas, esse vereadores têm atendimento para os pedidos de obras", afirma Célio de Castro, vice-prefeito da cidade.
O fenômeno da capital se repete em Ipatinga. Com apenas cinco vereadores em 17, o governo de João Magno conseguiu o apoio de parlamentares do PTB, PL, PDT e PMDB para aprovar seus principais projetos: regime jurídico único, criação de uma nova secretaria, orçamento sem modificações. A estratégia é a mesma de Patrus: negociação envolvendo obras.
"É preciso encarar a face real da política brasileira", afirma o prefeito, lembrando que seu antecessor, também do PT, foi derrotado em votações na Câmara por não conseguir estabelecer relação com todos os partidos.
Nos dois casos, Ipatinga e BH, esse mecanismo de apoio é considerado normal. "Nós temos limites, não negociamos cargos por exemplo", diz Célio de Castro.
"Respeitamos o vereador, ele é muitas vezes o porta-voz de aspirações legítimas", diz Magno.
Habituado a apoiar greves, o PT teve de enfrentar uma em Betim, no ano passado. Os médicos da rede municipal pararam por 70 dias. A prefeita Maria do Carmo decretou estado de emergência e conseguiu aprovação da Câmara para contratar 60 profissionais de saúde em caráter emergencial, para substituir grevistas.
No segundo mês, ela cortou o pagamento dos médicos em greve –a reposição do pagamento foi negociada no final, condicionada à reposição dos dias de trabalho.

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