São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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"Minha geração é desligada"

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

'Minha geração é muito desligada'
Maurício Motta Laporte, motorista particular de uma historiadora, lamenta desconhecer os principais acontecimentos da história contemporânea do seu país. "Sinto falta, até hoje, de saber mais sobre o que aconteceu no dia em que eu nasci. Mas sou a favor, totalmente, do militarismo. O país andava mais em ordem naquela época."
Sem interesse por política, Maurício diz que votou em Lula para presidente em 1989, em Maluf para prefeito em 1992 e ainda não sabe em quem votará este ano. "Acho que as pessoas da minha idade são muito desligadas."
Ter nascido em 31 de março de 1964 influenciou, acredita, o seu estado de espírito: "Como sempre fui rebelde, meu pai dizia: 'Você tem um pouco do dia, você é um pouco revolucionário.' Acho que é verdade. Nasci na bagunça e gosto de viver no meio da bagunça."
Nascido e criado na Aclimação (região central de São Paulo), Maurício ainda mora no bairro, num apartamento próprio de dois quartos, com a mulher, a filha de 8 anos e a mãe. Abandonou o colégio, "por preguiça, mesmo", no 2.º colegial. Já foi office-boy, fiscal de clube e há quatro anos trabalha como motorista. "Minha categoria é menos valorizada do que deveria. Um dia, quem sabe, eu procuro o sindicato."
Sem alterar o tom de voz, o calmo Maurício expressa opiniões fortes: "Está certo que o mendigo rouba por necessidade, mas com a pena de morte ele ia pensar duas vezes antes de assaltar." Outra: "Embora não me lembre dele, acho que o Brasil precisa de um monte de Jânio Quadros. Ele mantinha a coisa na linha certa."

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