São Paulo, domingo, 27 de março de 1994 |
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Mulheres que molestam demais
MAUREEN DOWD
Ela o espera com uma garrafa de Chardonnay. Cruza e descruza as pernas várias vezes, explicando que não usa meias porque gosta da "sensação de nudez". Ela entreabre os lábios e e olha sonhadoramente para ele através dos longos cílios. Diz que ele tem "um bumbum durinho e muito bonitinho". Pede uma massagem no pescoço. Beija-o nos lábios. Ignora seus protestos de que é casado. Pede que a secretária traga uma caixa de camisinhas e que tranque a porta. Mexe a boca ritmicamente, como um peixe, e dá pequenos arquejos. Michael Crichton temia (desejava?) uma reação explosiva a seu novo romance, "Disclosure" (desfecho), no qual coloca uma superior molestando sexualmente um subordinado. É possível acusar Crichton de implausibilidade. Mas sexismo? Não. É difícil manifestar ultraje por causa de uma vilã que é pouco mais que um velociraptor metido num tailleur Armani. Crichton gosta de declarar em entrevistas que não tem nenhum senso comercial, e é conduzido por pura curiosidade intelectual. Felizmente para o autor e para Hollywood –que comprou "Disclosure" há seis meses por US$ 3,5 milhões– simplesmente acontece que seu intelecto é atraído por assuntos quentes. O drama, diz Crichton, é baseado num caso real, embora ele não diga qual. A história começa quando Meredith consegue uma promoção que Tom, seu ex-namorado, merece. Graças ao auxílo de maquiagem e recursos cosméticos à la "Vertigo", ela faz Bob Garvin, dono da empresa, se lembrar da filha morta. Não satisfeita em pular à frente de Tom, Meredith tem de pular em cima dele, e depois o acusa de molestamento sexual. Quando se faz uma mulher agir como um homem, desiste-se do elemento mais interessante: os sexos são diferentes e sempre o serão. Poderia ser discutida a forma pela qual as mulheres, condicionadas por séculos a obter poder através do sexo ou posição familiar, conquistam o poder executivo. Por exemplo, enquanto as mulheres acham o poder sexy nos homens, os homens às vezes acham o poder ameaçador nas mulheres. Crichton contorna o problema fazendo sua molestadora jovem e bela. Ele dá à advogada do herói, Louise Fernandez, a última palavra: "Baseada nos fatos, não vejo muita diferença no comportamento de homens e mulheres". Estes fatos constituem a maior ficção. Texto Anterior: O voyeurismo mágico de Nicholson Baker Próximo Texto: Einaudi publica história da Europa Índice |
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