São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Eleição renova cenário político na Itália

HUMBERTO SACCOMANDI
ENVIADO ESPECIAL A MILÃO

Craxi, Andreotti, De Mita, Forlani, De Michelis. Esqueça os nomes de todos os políticos italianos conhecidos no Brasil. Após as eleições parlamentares de hoje e amanhã, eles serão história. Com o voto, os italianos acertarão as contas com a corrupção política e os partidos que governaram o país nos últimos 50 anos.
Esta é a primeira eleição parlamentar depois do escândalo Tangentopoli, que derrubou os principais líderes políticos da Itália. A maioria nem se candidatou. O ex-premiê Bettino Craxi, espécie de símbolo da corrupção no país, é inclusive usado para denegrir a imagem de seus amigos. É como se algum amigo pessoal de PC Farias se candidatasse no Brasil.
Os partidos aos quais esses políticos tradicionais pertenciam foram dizimados. A Democracia Cristã, que governou o país ininterruptamente desde 1946, rachou, mudou de nome para Partido Popular e naufragou na intenção de voto. O Partido Socialista (de Craxi) pode nem conseguir os 4% dos votos exigidos para ter representação no Parlamento.
Quem são, então, as novas forças, os novos nomes? Sobretudo o PDS, ex-comunista. Poupado do escandâlo de corrupção, o partido venceu as eleições municipais no começo do ano. Lidera uma coalizão de centro-esquerda, os chamados "progressistas". Seu programa defende a economia de mercado, as privatizações, o saneamento das contas do Estado, a flexibilização do mercado de trabalho. Nada a ver com o velho PCI. Seu líder é o bigodudo Achille Occhetto.
A coalizão de direita é liderada pelo magnata da mídia Silvio Berlusconi, convertido a político de última hora para "salvar o país do comunismo". Ele conseguiu montar um partido em dois meses (Força Itália) e aglutinar uma improvável aliança com os neofascistas da Aliança Nacional e os federalistas da Liga Norte. Todos unidos pelo desejo de bater os ex-comunistas, pois se odeiam mutuamente.
Berlusconi defende o enxugamento radical do Estado (inclusive em áreas como saúde e educação), diminuição dos impostos, aposentadorias privadas etc. Promete também o impossível (segundo seus próprios aliados): criar 1 milhão de novos postos de trabalho em dois anos. Chamado de "sua emitência" (pelas suas três redes de TV) ou "cavalliere" (título de honra) pela imprensa, Berlusconi é um misto de Silvio Santos com o candidato Fernando Collor.
No centro, entre esses dois pólos, estão os dois partidos herdeiros da antiga Democracia Cristã: o Partido Popular e o Pacto Segni. Reagrupados para esta eleição, tinham menos de 10% nas últimas pesquisas. Com um pouco mais, porém, podem ser decisivos para a formação do próximo governo italiano. Resta saber a quem apoiariam, se Occhetto (preferido dos católicos de esquerda) ou Berlusconi (que financia a igreja e é contra aborto e anticoncepcionais).
Esse é o cenário que aguarda os pouco mais de 48 milhões de eleitores italianos hoje e amanhã. A lei italiana proíbe a divulgação de pesquisas de intenção de voto duas semanas antes das eleições. A Folha, porém, teve acesso a números de uma pesquisa realizada por um órgão do governo italiano. Nenhum grupo teria maioria. A aliança de Berlusconi tem pouco mais de 28% dos votos. Os progressistas, cerca de 20%. O centro dispõe de 10%. O restante, os indecisos, vão dar o voto decisivo.

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