São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994
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Desgraça sem limites

"What's Eating Gilbert Grape" ainda nem tem nome em português. "Gilbert Grape" é daqueles filmes que mal precisam ter nome. Daqueles que falam de uma solidão petrificada, de uma ausência de perspectiva bem moderna, de um silêncio quase ensurdecedor de uma adolescência desperdiçada.
Digamos que o personagem de Nastassja Kinski em "Paris Texas" tivesse mais alguns filhos e abandonasse a prostituição voyeurista e fosse cuidar da sua casinha no interior dos EUA. Ia dar mais ou menos em algo como "Gilbert Grape".
Já muito gorda, imagine que a personagem de Kinski (que foi linda na juventude) só quer ver seu filho "prejudicado mentalmente" fazer 18 anos. De resto, a vida é muito chata. Sem saída, seu filho mais velho (Gilbert/Johnny Depp) sucumbe. Para ele, até se apaixonar é complicado –melhor se concentrar em dar banho no irmão e alimentar sua mãe.
É, não existe limite para a desgraça da insignificância –e nesse filme, dirigido por Lasse Hallstrom, essa sensação é passada com a brutalidade necessária. "Gilbert Grape", adaptado do romance de estréia do americano Peter Hedges, não traz nenhum avanço cinematográfico significativo. Mas como sentimentos andam raros na tela, o filme é uma boa referência despretensiosa –surpreendente até pelo sempre duvidoso Depp...
Mesmo sem sucesso lá fora, esse trabalho merece ser visto, nem que seja para você ter certeza de que sempre pode existir uma vida mais miserável do que a sua.

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