São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 1994
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Quércia quer votos dos órfãos de Collor

EDIANA BALLERONI
COORDENADORA DE ECONOMIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estratégia de campanha de Orestes Quércia (PMDB) está definida e tem como alvo principal capturar votos na mesma faixa social em que Fernando Collor de Mello mergulhou em 1989 e com os quais chegou à Presidência da República.
Embora não seja essa a expressão usada pelo quercismo, o fato é que o ex-governador paulista fez uma opção preferencial pelo voto do lumpesinato. Ou, como preferia Collor em 89, os "descamisados".
Essa camada do eleitorado tem reduzido nível de informação e politização e é a mais fácil de se seduzir com imagens, falsas ou reais.
O primeiro boletim de campanha de Quércia, que começou ontem a circular, já traz alguns exemplos das imagens que se pretende associar ao provável candidato dos peemedebistas.
Quércia é tratado, nos títulos de primeira página do boletim, como "caipirão" e "peão". O boletim é tão populista que até escorrega gravemente no português, ao dizer, no editorial, que "a grande imprensa (...) ataca-no...".
Na análise que se faz no quercismo, a campanha presidencial está, na prática, restrita a três nomes, o do próprio Quércia, o do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O prefeito paulistano, Paulo Maluf (PPR), é descartado, mesmo que venha a ser candidato, porque o ex-governador acha que Maluf terá enormes dificuldades para fazer alianças regionais que lhe permitam obter bom número de votos fora de São Paulo, seu único reduto consolidado.
O discurso de Quércia, em consequência, vai bater em duas supostas corporações, a patronal e a sindical. Ao alvejar a primeira, Quércia espera atingir, por elevação, a candidatura Fernando Henrique, que começa a ser o candidato preferido do empresariado.
Ao atacar a segunda, o alvo real é Lula, nitidamente amparado pela parte da estrutura sindical que responde à orientação da CUT (Central Única de Trabalhadores).
Quércia, como a maioria do mundo político e empresarial, trabalha com a hipótese de que o primeiro turno servirá principalmente para definir o adversário de Lula no turno final.
A um dado momento, sempre de acordo com a avaliação obtida pela Folha, a elite se convencerá de que o candidato apto a derrotar Lula é Quércia e não o seu preferido de momento, FHC, e acabará migrando para o ex-governador.
Aí também há um nítido viés "collorido" na estratégia do quercismo. Em 1989, Collor tampouco era o favorito das elites, mas, como demonstrou ser o candidato mais viável para afastar o fantasma "Brizula" (o favoritismo inicial de Lula e Leonel Brizola), captou todo o apoio e milhares de dólares do empresariado.
Na expectativa dos quercistas, a migração do empresariado se dará a partir do início do horário gratuito, o momento em que o discurso contra as "corporações" tenderá a oferecer maior retorno em intenções de voto. Collor também atacou duramente as elites, o que não impediu que parte delas lhe dessem apoio.
Quanto às denúncias contra Quércia, seus aliados trabalham com a tese de que nada de novo surgirá daqui para a frente. Apenas serão recicladas as inúmeras denúncias que já constam contra o ex-governador, mas Quércia acredita que tem respostas para todas elas. As mesmas respostas, aliás, que vem dando desde que elas começaram a se intensificar na mídia.

Colaborou CLÓVIS ROSSI, da Reportagem Local

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