São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 1994
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Documentário percorre 20 anos de história

DA REDAÇÃO

Filme: Cabra Marcado para Morrer
Produção: Brasil, 1984, 119 min.
Direção: Eduardo Coutinho
Quando: hoje, às 22h
Onde: Espaço Banco Nacional de Cinema - Sala 3 (r. Augusta, 1.475, tel. 011/288-6780, Cerqueira César, região central de São Paulo)
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"Cabra Marcado para Morrer" é, de longe, a mais fascinante aventura cinematográfica do ciclo "1964: 30 Anos". O diretor Eduardo Coutinho fazia, em 1964, no Nordeste, um filme que tinha como base o assassinato de um líder camponês. O golpe de Estado pôs um fim ao tipo de organização dos camponeses que se desenvolvia até então. De passagem, pôs um fim ao filme.
Quando a "abertura democrática" já estava em andamento, em 1981, Coutinho retomou o projeto. Em outros termos, claro. Agora, tratava-se de reencontrar os atores-personagens do filme, saber o que era feito deles.
O salto no tempo é uma idéia notável. Através dele, descobrem-se não só esses antigos personagens, como as mudanças por que o Brasil passou nesse período.
É como um balanço de 64: o que se perdeu, o que se ganhou, o que permaneceu, o que mudou. Coutinho aproxima-se de seus personagens (familiares do líder assassinado) com paixão, mas não vem para acertar contas com os militares: sua paixão é reconstituir uma realidade complexa.
Esse belo trabalho documental desdobra-se nas imagens que sobraram de seu primeiro filme, o de 64. Com isso, permite também ao espectador conhecer um pouco do que eram as relações de trabalho no campo nessa época, a maneira como a esquerda intelectual relacionava-se com elas, o que esperava para o Brasil e como via (isto é, como filmava) as coisas.
Aventura construída sobre uma elipse, sobre uma supressão de tempo que vai de 1964 a 1984 (ano de sua conclusão), "Cabra Marcado" é o relatório de uma reflexão que, sem deixar barato seu ponto de partida (as condições de vida no campo), abre-se para o correr do tempo, as transformações, o fluxo da vida.
É como se dissesse que o presente nunca prescinde do passado, assim como o passado não se imobiliza. Coutinho trabalha o tempo (história) e o espaço (cinema), unindo, separando, discernindo, para criar um filme vivo e agudo.

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