São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 1994
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Pensamentos controlam computador

KEVIN MANEY
DO "USA TODAY"

Tome muito cuidado com o que passar pela sua cabeça quando você estiver sentado em frente ao seu computador. No futuro, pensamentos aleatórios poderão ser compreendidos e lidos pelos microcomputadores, aparecendo na tela.
"Sol, Sol lá fora. Cansado de trabalhar. Trabalhar é ruim. Sol é bom. Preciiiiiso de sol..."
A Advanced Neurotechnologies Inc., uma empresa com apenas quatro funcionários, está dando o primeiro passo nessa direção.
A companhia acabou de apresentar um produto chamado "BrainLink". Permite praticamente que qualquer pessoa controle um computador simplesmente focalizando seus pensamentos.
Os pensamentos alteram as ondas cerebrais, que são lidas por sensores instalados numa cinta colocada em volta da cabeça.
Os sensores retransmitem sinais a um microcomputador de mesa através de fios.
Em outras palavras, o produto permite que um PC leia seus pensamentos –leia sua mente.
Mas não se entusiasme demais. Você não poderá ligar um PC e ver aquele invento que você jura estar no fundo da sua cabeça há 20 anos aparecer na tela de repente como um projeto detalhado e patenteado.
A empresa, que usa o nome de forma abreviada, aNi, diz que a tecnologia ainda é rudimentar. Apenas permite que se jogue um jogo simples como movimentar a imagem de um balão para cima e para baixo.
Mas, segundo Richard Patton, presidente e fundador da aNi, "isso é apenas a ponta do iceberg".
"Uau! Quem é aquela mulher na TV? Cindy Crawford? Eu gostaria de..."
A chave é concentração. Foco. Para usar o "BrainLink", você precisa passar um creme especial na sua testa e em seguida colocar a cinta com os sensores em volta da cabeça.
Os sensores são semelhantes aos usados nos hospitais em eletroencefalogramas (EEGs). Os sensores do EEG lêem as ondas cerebrais como microvolts.
A leitura dos microvolts entra no computador. O software traduz os dados em instruções simples, tais como para cima ou para baixo, para a esquerda ou para a direita.
Patton afirma que, após meia hora de prática e aprimoramento das instruções do programa no PC, a maioria das pessoas pode começar a imaginar como modificar seus pensamentos –que alteram as ondas cerebrais– de modo que o balão voe ou o cursor se mova para a esquerda.
Na verdade, a aNi desenvolveu a tecnologia originalmente para ensinar as pessoas a pensar com mais clareza, e não como forma de controlar computadores.
No momento, a renda da empresa instalada em Colorado Springs, provém de pessoas que fazem o treinamento que ela oferece em psicoterapia –US$ 6.000 por duas semanas de sessões.
"Tenho especial interesse em melhoria de desempenho", diz Patton. Ele diz ainda que esse treinamento já ajudou um campeão de caratê, um gerente de investimentos e alguns escritores.
A aNi passou a acreditar que sua tecnologia podia fazer mais do que apenas treinar pessoas. "De forma rudimentar, seria apenas uma questão de reconfigurar o equipamento que usamos no momento, e poderíamos fazê-lo funcionar como um mouse de PC", diz Patton.
Ele admite, porém, que fazer um cursor parar em uma determinada letra ou imagem "demandaria muita prática". Além disso, a cinta em volta da cabeça não seria apropriada para um local de trabalho elegante.
Bem, é um começo. E talvez não tão absurdo. Micros têm sido utilizados na área de saúde para ler e analisar EEGs desde meados dos anos 70. A única novidade agora é usar EEGs para controlar o computador.
"Nunca ouvi falar nisso", diz Jill Schmidt, que trabalha com controles de reconhecimento de voz para computadores no laboratório da US West. Ela acha que o projeto parece promissor. "Vou examiná-lo", diz.
É claro que há um enorme salto entre mover um cursor e compreender pensamentos complexos que mudam rapidamente. Só agora os computadores começam a entender a fala nornal.
Mas Patton acredita ser possível criar computadores que funcionem totalmente só lendo ondas cerebrais –"talvez ainda em nossos dias".
O patrão. Vindo para cá. Vá. Vá embora. Afaste-se de mim, seu...
Espero que não nos meus dias!

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