São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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Maluf desiste, mas quer influir na eleição

DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PPR), oficializou ontem sua desistência da disputa pela Presidência. Expressão cansada, Maluf atribuiu a decisão às pesquisas que constataram a opção de seu eleitorado pela permanência no cargo e à dificuldade de conseguir coligações.
Segundo Maluf, seu "sonho presidencial foi postergado" para 98. O prefeito alegou que tinha um compromisso a cumprir com seu eleitorado paulistano e mensurou o impacto negativo de uma renúncia por meio de pesquisas diárias comandadas pelo publicitário Duda Mendonça.
"Em todos os lugares ouvia que era muito moço e teria tempo para participar de outras eleições', afirmou. Maluf, porém, não conseguiu explicar a razão de ter tentado viabilizar sua candidatura até a madrugada de ontem, quando já dispunha dos dados de pesquisa.
Mesmo reconhecendo na nota oficial que distribuiu que a falta de coligações teve peso na definição, o prefeito tentou minimizar o problema. Afirmou que nenhum partido tem alianças asseguradas até agora e que teria possibilidades de fincar um pé no PFL através de amigos que tem naquele partido.
O prefeito disse ter "certeza absoluta" de que o PPR terá candidato próprio à sucessão do presidente Itamar Franco. Listou os cargos ocupados pelos senadores Esperidião Amin (SC) e Jarbas Passarinho (PA), os dois nomes cotados no PPR para a eleição presidencial e elogiou a "vida sem mácula" dos dois correligionários.
"Eles não se negaram a examinar a possibilidade de concorrer', afirmou Maluf. O prefeito negou, mais uma vez, que sua saída da disputa abra campo para o crescimento da candidatura Orestes Quércia (PMDB). "Posso transferir quatro milhões de votos para o nosso candidato só aqui em São Paulo', acha.
Em nenhum momento da entrevista, Maluf negou que tenha tentado até o fim viabilizar sua candidatura. Ao abordar o crescimento do nome de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em áreas empresariais tradicionalmente simpáticas ao malufismo, o prefeito desdenhou das possibilidades eleitorais do tucano. "Historicamente, os candidatos dos empresários perdem as eleições", declarou.
"Eu adoro uma disputa, mas desta vez tive que usar a cabeça e não o coração", definiu sua opção pela permanência na prefeitura. Maluf não conseguiu evitar farpas contra Fernando Henrique Cardoso quando perguntado sobre a viabilidade eleitoral do ministro. Disse que as chances de FHC dependem do sucesso do plano econômico e que ele deveria também ter desistido da candidatura.
"As pesquisas também diziam que ele deveria ficar no cargo. Eu me rendi enquanto ele havia prometido que ficaria até o fim do plano", comparou.
Maluf está abatido. É a primeira vez que desiste de uma eleição. Já havia entrado em disputas com muito menos chance que os 13% constatados na última pesquisa do Datafolha. Pela primeira vez, no entanto, ocupava um cargo importante e foi bombardeado, nos últimos dias, por amigos e familiares que desaconselhavam a saída da prefeitura.
Os auxiliares que o conhecem há anos dizem que, nos últimos anos, nunca Maluf andou tão tenso como agora. Antes angustiado pela dúvida de concorrer ou não, agora é impossível esconder a tristeza causada por outra dúvida: Maluf ainda acha que só ele teria condições de derrotar Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Eu tenho condições de ganhar e o FHC não sabe fazer campanha", argumentou nos últimos dias. Para descansar, ele viaja hoje ao Exterior.

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