São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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Definições acentuam a vantagem de Lula

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao completar-se ontem a montagem do "grid" de largada para a disputa presidencial, verifica-se que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha razão ao comparar-se, no início do mês, com Ayrton Senna, a bordo de uma potente Williams, competindo com meros "fusquinhas".
A desistência do prefeito Paulo Maluf (PPR) cria a seguinte situação: Lula, que já era o primeiro colocado com folga em todas as pesquisas eleitorais, abriu um vácuo ainda maior, à medida em que saiu do "grid" justamente um dos segundos colocados (Maluf). O outro segundo, José Sarney, depende de o PMDB conseguir realizar uma prévia e de a convenção do partido aceitar referendar o resultado da prévia.
Vantagem
A vantagem teórica do candidato petista se amplia quando se consideram as dificuldades dos adversários que tendem, agora, a ocupar o segundo lutar, seja pela ausência de Maluf, seja pelas incertezas no PMDB. O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), depende do êxito de seu plano econômico, sua principal arma eleitoral. É, portanto, uma densa incógnita.
O governador do Rio, Leonel Brizola (PDT), precisa superar a crônica anemia de votos nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do país, nos quais se concentram 33% das 90 milhões de pessoas aptas a votar.
Orestes Quércia precisa, antes de começar a campanha propriamente dita, superar as dificuldades internas no PMDB, que ameaça repetir o cenário de 1989: o candidato escolhido em convenção, Ulysses Guimarães, acabou abandonado por parcela considerável de peemedebistas e foi mero figurante.
No caso de PFL e PPR, dois dos maiores partidos, sequer há candidatos viáveis à vista.
Bem feitas as contas, portanto, Lula tem razão ao colocar-se como uma Williams. O único problema é que, no GP de Interlagos, o primeiro da Williams com Ayrton Senna a bordo, a máquina favorita sequer terminou a corrida.
Ressalva
É uma ressalva que fica mais forte quando se comparam os resultados da primeira das pesquisas feitas pelo Datafolha em abril de 1989, ano da eleição anterior: o "Senna" da época parecia ser Orestes Quércia, que tinha 18% das intenções de voto, contra 14% de Fernando Collor de Mello.
Quércia sequer alinhou-se no "grid" de 89, Collor foi o primeiro colocado e Lula, que era apenas o quarto colocado com 12%, acabou sendo o desafiante.

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