São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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As uvas e Maluf

A decisão formalizada ontem pelo prefeito paulistano, Paulo Maluf (PPR), de não disputar a sucessão presidencial caracteriza uma situação inédita em todos os pleitos para cargos executivos, desde que eles foram reintroduzidos no país, generalizadamente, a partir de 1985: será a primeira vez em que o nome de Maluf não estará na cédula eleitoral.
Candidato, derrotado, ao governo paulista em 86 e 90, candidato presidencial nas indiretas de 85 e nas diretas de 89, derrotado em ambas, candidato à Prefeitura de São Paulo em 88 (perdeu para Luíza Erundina) e em 92 (finalmente, venceu), agora Maluf não disputa.
Pode-se ler a desistência sob um de dois ângulos. O favorável a Maluf dirá que o prefeito preferiu ser fiel à sua promessa de governar a cidade pelos quatro anos de seu mandato. Seria uma atitude elogiável, em um cenário político marcado pelo descumprimento sistemático de promessas, mas seria, igualmente, uma interpretação ingênua.
A segunda leitura, mais fiel à realidade, dirá que Maluf desistiu, não por motivos éticos, mas porque não conseguiu assegurar em tempo hábil apoios suficientes para dar-lhe boas chances de realizar a sua obsessão: ser presidente da República.
No momento, porém, importa menos examinar as razões da atitude e mais as suas consequências. A primeira é a mais óbvia: em tese, a desistência de Maluf ajuda os três candidatos com base eleitoral em São Paulo. Embora nada obrigue o eleitorado a votar em candidatos domiciliados no seu Estado, há uma natural inclinação a fazê-lo.
Em 1989, ocorreu uma enorme dispersão do voto paulista, disputado então por cinco candidatos (o próprio Maluf, mais Luiz Inácio Lula da Silva, Mario Covas, Ulysses Guimarães e Guilherme Afif). Em parte por essa dispersão, quem ganhou em São Paulo foi o político alagoano Fernando Collor de Mello.
Dos três atuais candidatos de São Paulo, o que mais se beneficia, sempre em tese, é Orestes Quércia, por ter um eleitorado de perfil mais semelhante ao do prefeito.
A segunda importante consequência da saída de Maluf refere-se à eventual coligação PSDB-PFL. O PFL perde um dos instrumentos de pressão que antes usava: a ameaça de aliar-se a Maluf, se o PSDB hesitasse. Ontem mesmo, as lideranças do PSDB já diziam que era conveniente, agora, que o partido tomasse um tempo para refletir. Por fim, a desistência de Maluf dá contornos mais nítidos ao início da corrida sucessória. Mas nada além disso.

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