São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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Infra-Estrutura Global de Informação

AL GORE
Nesta década dispomos de recursos tecnológicos e meios econômicos para aproximar todas as comunidades do mundo. Podemos, finalmente, criar uma rede de informação planetária que transmita mensagens e imagens com a velocidade da luz, desde a maior cidade até o menor vilarejo de todas as partes do continente.
O presidente dos EUA e eu acreditamos que a criação desta rede das redes constitui um pré-requisito essencial de desenvolvimento sustentável para todos os membros da família humana. Com vistas ao alcance desse objetivo, legisladores, regulamentadores e homens de negócios devem fazer o seguinte: construir e operar uma Infra-Estrutura Global de Informação (IGI).
Essas vias –ou, mais precisamente, redes de inteligência distribuída nos permitirão partilhar informações, fazer ligações e comunicações como uma comunidade global. Dessas conexões extrairemos um progresso econômico robusto e sustentável, democracias fortalecidas, soluções melhores para desafios ambientais globais e locais, cuidados aperfeiçoados com a saúde e, por fim, um maior sentido de administração partilhada de nosso pequeno planeta.
A Infra-Estrutura Global de Informação ajudará na educação de nossos filhos e permitirá o intercâmbio de idéias dentro de uma comunidade e entre nações. Representará um meio pelo qual famílias e amigos transcenderão as barreiras do tempo e da distância. Tornará possível um mercado global de informações, onde consumidores poderão adquirir ou vender produtos.
O desenvolvimento da IGI deve ser um esforço cooperativo entre governos e povos. Não pode ser ditado ou erigido por um único país. Deve constituir um esforço democrático.
A inteligência distribuída da IGI ampliará a democracia participativa e, em certo sentido, a IGI constituirá uma metáfora para a própria democracia. A democracia representativa não funciona com um governo central todo-poderoso, que se arroga a tomada de todas as decisões. Esta a razão da falência do comunismo. Ao invés disso, a democracia representativa repousa sobre a presunção de que a melhor maneira de uma nação adotar suas decisões políticas é cada cidadão –o equivalente humano do processador autônomo– ter o poder de controlar sua própria vida.
Para que isso seja feito, deve estar disponível ao povo a informação de que ele necessita. E, ainda, ser a ele permitido expressar livremente suas conclusões pela palavra e pelo voto, combinados com aqueles de milhões de outros. Isso é o que orienta o sistema como um todo.
A IGI não será apenas uma metáfora para uma democracia em funcionamento, mas ela promoverá, de fato, o funcionamento da democracia ampliando consideravelmente a participação dos cidadãos nas tomadas de decisões. Antevejo o advento de uma nova era ateniense de democracia, forjada nos foros que a IGI irá propiciar.
Dentro das fronteiras nacionais dos EUA, aspiramos à construção de nossas vias de informação de acordo com um conjunto de princípios que enumerei em janeiro, na Califórnia. A Infra-Estrutura Nacional de Informação, como a chamamos, será construída e mantida pelo setor privado. Consistirá ela em centenas de diferentes redes operadas por diferentes companhias e usando diferentes tecnologias, todas interligadas em uma gigantesca "rede das redes", proporcionando telefonia e vídeo digital interativo para quase todos os norte-americanos. Nosso plano se baseia em cinco princípios:
Primeiro, estimular o investimento privado; segundo, promover a competição; terceiro, criar uma estrutura regulamentadora flexível que possa acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas e mercadológicas; quarto, proporcionar acesso aberto à rede para todos os fornecedores de informação; e quinto, assegurar serviço universal.
Constituirão esses princípios somente para os Estados Unidos? Claro que não. Muitos deles são princípios internacionalmente aceitos. Acredito que esses princípios podem informar e ajudar no desenvolvimento da Infra-Estrutura Global de Informação, em âmbito mundial.
Vamos, pois, trabalhar juntos, a fim de ligarmos os povos da Terra eletronicamente.

AL GORE, 45, é vice-presidente dos Estados Unidos da América.

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