São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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PSDB adia escolha do vice para reduzir cacife do PFL

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PSDB decidiu empurrar com a barriga, até o final de abril, a negociação com o PFL em torno de uma coligação para a disputa presidencial. O pragmático raciocínio que sustenta a falta de pressa do PSDB na negociação com o PFL é este: "O PFL virá de graça para nós", conforme avaliação obtida ontem pela Folha junto à cúpula peessedebista.
Traduzindo: sem um candidato presidencial forte e tendo perdido a possibilidade de ligar-se a Paulo Maluf (PPR), que desistiu, o PFL acabará sendo empurrado para os braços do PSDB sem poder exigir muito em troca, de acordo com o cálculo dos "tucanos".
"Agora, nós não temos mais pressa", confirma o deputado federal José Aníbal (PSDB-SP). O "agora" refere-se especificamente à desistência de Maluf.
Mas a decisão peessedebista de retardar o fechamento do acordo leva em conta, também, pesquisa que acaba de chegar às mãos da direção partidária e que mostra que uma chapa Fernando Henrique Cardoso (PSDB)/Gustavo Krause (PFL) tira mais votos do que dá ao ex-ministro da Fazenda.
Garcia
Também em decorrência da pesquisa, reforçou-se no PSDB a sensação de que o governador de Minas Gerais, Hélio Garcia (PTB), seria, "disparado, o melhor companheiro de chapa" para Fernando Henrique, como diz Sérgio Motta, amigo pessoal do candidato peesedebista e secretário-geral do partido.
Ao contrário do que ocorre com Krause, Hélio Garcia como vice faria a porcentagem de votos em FHC pular de 13% para 19%, aproximando-se mais de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece com 32%.
Já sabendo da pesquisa, FHC deu imediato aval ao convite feito anteontem pelo presidente Itamar Franco ao governador mineiro para ser o vice de Fernando Henrique. Hélio Garcia só não saiu do Palácio do Planalto já como candidato a vice por ter manifestado dúvidas quanto a deixar ou não seu cargo para concorrer à Vice-Presidência. Ontem, a dúvida desapareceu e ele anunciou que não sai do governo, o que o inviabiliza como vice, embora seu apoio continue sendo desejado pelo PSDB.
Pressa do PFL
Ao contrário do que ocorre no PSDB, no PFL a pressa permanece. A Folha apurou, aliás, que o PFL pretendia que a coligação já estivesse fechada no momento em que FHC deixasse o Ministério da Fazenda e fosse formalmente lançado candidato.
Como isso não ocorreu, o senador Marco Maciel (PE), líder do partido no Senado, diz, agora, que "os finalmentes serão acertados na próxima semana". Maciel informa que a discussão com o PSDB passa por três questões: o programa de governo, que o PFL vem elaborando já há algum tempo; o candidato a vice; e a amplitude da coligação.
Maciel cita como parceiros prioritários o PP e o PTB, mas acha que a aliança "pode e deve ampliar-se o mais possível", inclusive para abranger o PPR de Maluf.
O PSDB dá como praticamente fechado o acordo com o PP, condicionado apenas à aceitação, pelos "tucanos" do Paraná, da candidatura ao governo de Álvaro Dias (PP).
Quanto ao PPR, a estratégia do PSDB não é a de coligar-se, mas a de evitar que Maluf passe a apoiar Orestes Quércia, se este vier de fato a ser o candidato do PMDB. Ou seja, o PSDB quer que Maluf fique neutro no primeiro turno, na certeza de que, em uma eventual disputa entre FHC e Lula no segundo, o prefeito apoiará o candidato "tucano".
Qualquer que sejam, afinal, as coligações feitas, elas valerão para a Presidência e não se estenderão necessariamente às disputas estaduais. "A realidade de cada Estado é muito diferente uma da outra", justifica o deputado federal Sérgio Machado (PSDB-CE).

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Sobre eleições gerais às páginas 1-5 e 1-8

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