São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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Decisão estratégica

SÍLVIO LANCELLOTTI

Foi estritamente tático o adiamento da divulgação da decisão da Uefa com relação às próximas eleições da Fifa. Na realidade, a entidade que organiza o futebol da Europa já adotou a sua posição, "clara e inequívoca" no dizer de seu vice-executivo, o italiano Antonio Matarrese. Preferiu aguardar mais uns dias por uma questão de autopreservação. Embora seja pública a sua irritação com a gestão de João Havelange, o atual presidente da Fifa e, por enquanto, único candidato registrado à sua própria sucessão, a Uefa não quer manifestar, sozinha, ainda, a intensidade do seu desagrado.
Acompanhe o leitor o meu raciocínio. 1) Desde que eliminou o inglês Stanley Rous, no pleito de 1974, às vésperas da Copa da Alemanha, Havelange paulatinamente diluiu a intensidade do poder da Uefa dentro da Fifa. 2) Também aos poucos, mas implacavelmente, Havelange ampliou os limites da interferência do Terceiro Mundo dentro da Fifa, ao ponto de multiplicar as suas vagas nos Mundiais, sempre às expensas da Europa. 3) Veloz e ambicioso, o suíço Joseph Blatter, secretário-geral da Fifa, sentiu a oportunidade e se antecipou à Uefa, se atirando ele mesmo, nos bastidores, como uma alternativa a Havelange. 4) Ainda que o secretário-geral provenha da Europa, a Uefa não confia na sua conduta e não aceita o seu comportamento teatral, apelidado de "o estilo Blablablatter".
O suíço, todavia, transformou a sua candidatura num fato consumado e praticamente irreversível, a ponto de Havelange considerá-lo um traidor. Havelange já não mais trata Blatter de "você". Chama o secretário-geral de "senhor".
Resta à Uefa, nesse cenário, escolher uma dentre quatro opções. A) Apoiar Havelange e perder cada vez mais espaço para os africanos, os asiáticos e os centro-americanos. B) Apoiar Blatter e correr o risco de uma Fifa profissionalíssima, porém ainda muito mais autoritária. C) Entrar na briga exclusivamente para estragar a festa dos seus adversários. D) Entrar na briga para arrebatar, mesmo, a presidência da Fifa.
No encontro da semana que vem, em Zurique, convocado por Havelange, estarão presentes os seis mandatários das confederações do planeta, uma de cada continente. Sem Blatter. Havelange, obviamente, tentará negociar a sua sobrevivência. A Uefa, no entanto, dirá não, na expectativa de ter, então, o respaldo da África ou da Ásia à sua posição. Caso a África e alie à Europa, a hipótese mais provável, eu aposto em D. Caso a África silencie, eu aposto em C.

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