São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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Maestro acusa músicos de "boicotarem" ópera

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Maestro acusa músicos de 'boicotarem' ópera
Sangiorgi diz que cordas 'fizeram mímica' no fosso
O maestro italiano Alessandro Sangiorgi acusa oito músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de terem "feito mímica" e "fingido tocar" durante as récitas de terça e anteontem da ópera "Pedro Malazarte" no Teatro Municipal.
Segundo o regente, quatro violistas e quatro violoncelistas realizaram uma espécie de "operação tartaruga" durante as apresentações da obra de Camargo Guarnieri e Mario de Andrade. "Esses idiotas foram antiéticos e antiprofissionais", diz Sangiorgi. "Fizeram uma greve branca e boicotaram uma obra de arte brasileira pouco conhecida do público".
A Orquestra Municipal ameaçou entrar em greve na última segunda-feira, data da estréia da montagem dirigida por Sangiorgi, para reivindicar aumento salarial. Desejam passar de uma média de US$ 300 mensais para US$ 900. "Acabaram tocando, mas os chefes dos naipes dos violoncelos e violas sublevaram os colegas e passaram a tocar em 'pianíssimo' ", conta o maestro. "Fizeram mímica, fingindo entusiasmo, só que não se ouvia nada. A partitura ganhou um enorme buraco". Segundo Sangiorgi, os outros 24 músicos da orquestra ficaram indignados e os três cantores foram "derrubados em cena". "A TV Cultura registrou a récita de terça. Eu pedi que não a exibam porque é um desrespeito aos autores."
Vera Camargo Guarnieri, viúva do compositor, diz que vai empreender uma campanha contra os músicos insurgentes: "Foi uma covardia contra a obra de Guarnieri. Os músicos poderiam encontrar um outro expediente para reivindicar seus direitos".
Angelino Bozzini, trompista e presidente da Associação dos Músicos da OSM, confirma a versão do maestro e afirma que as cordas revoltosas não representam a posição da orquestra. "Todos os outros ficaram contra. Não foi uma atitude profissional", diz. Ele explica que é muito fácil para um instrumentista simular que está tocando: "Você deixa o arco tocar levemente sobre as cordas. O som se torna quase inaudível".
Os chefes dos naipes negam tudo. A primeira viola, Adriana Pace, afirma que seguiu a partitura. "Tocamos em 'piano' para que os cantores pudessem ser ouvidos", defende-se. Ela diz ter gostado do resultado musical das duas apresentações. "Não fiz nada que não estivesse na partitura. Esse maestro me parece um frustrado".
Paulo Taccetti, primeiro violoncelo, vai além. Chama o maestro de "benzedor de tempo": "Errou o tempo todo, assim como os cantores. Não faço mímica. Sou profissional. O fosso da orquestra está em más condições. Resultado: as cordas foram pouco ouvidas".

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