São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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Uma vela a Deus e outra ao Diabo

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – "Sempre acreditei em Deus", disse ontem Fernando Henrique Cardoso à repórter Susi Aissa, da Folha, estimulado pelo clima de Semana Santa. Aproveitou também o clima eleitoral (nada santo, diga-se) para informar sua crença nos homens, principalmente os santificados pelo voto: não faz restrições a alianças com ninguém. Como se vê, ele acende uma vela a Deus e outra ao Diabo.
Primeiro, Fernando Henrique viveu a angústia de deixar o Ministério da Fazenda -e, agora, é a angústia sobre a união com o PFL, ameaçando riscar a imagem do PSDB entre suas bases. Mas, em compensação, avançaria em regiões nas quais o partido é frágil. No caso, o interior do Nordeste.
A cúpula dos tucanos sabe que a aliança PSDB-PFL vai atrair pancadaria. Eles nasceram combatendo a fisiologia. E, de repente, caem nos braços do símbolo da fisiologia. Não será fácil explicar porque tanta ojeriza, por exemplo, a Orestes Quércia.
Eles vêem vantagens na indicação do deputado Luis Eduardo Magalhães, filho de ACM, para vice. O deputado ganhou respeito no Congresso por seu comportamento correto e cordial –recebe elogios até mesmo de parlamentares do PT como Aloízio Mercadante e José Genoíno. De resto, ACM tem voto e é uma das maiores lideranças políticas do Brasil.
Mas, ao tempo, ele é um dos símbolos de tudo aquilo que o PSDB jurou combater -inclusive o regime militar. Na cúpula do partido, sabe-se Luis Eduardo tem áreas vulneráveis, capazes de serem exploradas na campanha. Ele é dono da TV Bahia, retransmissora na TV Globo, junto com Cesar Mata Pires, genro de ACM e um dos donos da empreiteira OAS, frequente alvo de ataques.
Os tucanos da Bahia, inconformados com o acordo e prometendo romper, estão preparando um dossiê sobre quanto ACM drenou de recursos públicos para a TV de seu filho através de propaganda. Por sinal, o PT já detém parte dessas informações para eventual uso no horário eleitoral gratuito.
PS – A propósito de ACM: para fazer um lance pirotécnico, ele deu um show de desrespeito ao estado de direito. Tirou da cadeia 154 presos, esquecido de que soltar sem autorização do juiz é tão arbitrário como prender sem essa mesma autorização.

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