São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Dinheiro mergulha no curto prazo

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O dinheiro não resiste hoje ao fascínio da disponibilidade imediata. Experientes, os investidores aceitaram o convite do governo e procuraram se antecipar a eventuais surpresas enquanto o real não vem. Houve, no fechamento do primeiro mês da URV (Unidade Real de Valor), o deslocamento de US$ 5,3 bilhões para o abrigo do curto prazo.
O volume não é desprezível. A migração de recursos em março equivale a cerca de 80% do total de dinheiro em circulação na economia mais os depósitos à vista que repousam nos bancos. Representa, ainda, mais ou menos 1,1% do total de riqueza produzida pelo país no ano passado (o Produto Interno Bruto).
O restante, cerca de US$ 3,5 bilhões, significa dinheiro das próprias instituições financeiras que estava aplicado em títulos do governo com prazo mínimo de permanência de um mês. Também por insegurança, refletida na divergência de taxas de juros oferecidas para a compra de papéis públicos nos leilões do Banco Central, os bancos direcionaram os recursos para o dia-a-dia.
As instituições aplicam estes US$ 3,5 bilhões no encerramento do expediente, todos os dias, no próprio BC. Conhecido como overnight, é uma espécie de "fundão", com remuneração diária, mas sem tributação, que o BC oferece às instituições financeiras.
Quase todos os bancos sentiram esta forte migração em direção ao curto prazo. O Nacional registrou crescimento de US$ 200 milhões no patrimônio do seu fundo de commodities, algo como 10% reais. Perdeu, porém, US$ 180 milhões da sua carteira de CDBs prefixados de trinta dias.
Outras instituições, como o Itaú, abriram as portas para um ataque mais agressivo a seus clientes. Registrou uma evolução de 35%, US$ 200 milhões em valores absolutos, no estoque de dinheiro depositado em seu fundo de commodities.
Houve perdas nas cadernetas de poupança e nos CDBs da ordem de US$ 80 milhões, aplicações que têm em comum seu prazo de vencimento –30 dias, um futuro quase longíquo para um país habituado a uma inflação alta e crônica. Para o banco Econômico não foi diferente. O mês de março se encerrou com aumento de 20% reais no fundo de commodities, ou US$ 90 milhões a mais. As renovações de CDBs caíram US$ 50 milhões.
Segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento e Desenvolvimento), março apresentou um crescimento de 16,88% reais (isto é, descontada a inflação) no patrimônio dos fundos de commodities. Eles contabilizam, no total, aplicações de US$ 13 bilhões, e já representam 65% das aplicações em CDBs e 55% dos depósitos nas cadernetas de poupança.
Foi graças ao desenvolvimento dos fundos de commodities, que renderam cerca de 1,5%, na média, acima da inflação medida pela URV (43,26%), que os fundos de investimento apresentaram desempenho positivo de captação. FAF e fundos de renda fixa perderam depósitos, enquanto carteira livre e ações cresceram entre 1% e 2%.

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sobre mudanças nas aplicações nas págs. 2-3, 2-10 e 2-12

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