São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Joelhos são vítimas do futebol moderno

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O futebol moderno está acabando com os joelhos dos jogadores. Só neste primeiro semestre, três candidatos a estrelas da Copa dos EUA, o brasileiro Romário, o italiano Roberto Baggio e o colombiano Carlos Valderrama, sofreram problemas nessa articulação.
"O futebol, como todo esporte de alto nível, é degenerativo", afirma o ortopedista Marco Aurélio Cunha, médico dos atletas do Palmeiras que foram contratados pela Parmalat. "O futebol exige hoje um alto nível de perfomance. O que os jogadores fazem está além da capacidade de o corpo suportar. A articulação que mais sofre com isso é o joelho", diz.
Os joelhos são vítimas principalmente do excesso de esforço a que são submetidos. Saltos, piques, deslocamentos laterais e chutes exigem esforço no joelho. Pancadas e entorses são um corolário desse teorema.
Quanto maior o esforço e o empenho dos jogadores, maior a chance de se prender o pé na grama –e sofrer um entorse– ou de levar um chute no local. A mais recente vítima de um entorse foi o centroavante Romário, do Barcelona. Ele sofreu uma lesão leve no jogo contra o Racing Santander e não pôde jogar pela seleção contra a Argentina, dia 23 em Recife.
Sua ausência –e o fato de que enfrentou o Tenerife logo depois– gerou comentários de que o brasileiro teria "fugido" do jogo. "Isso é bobagem. Entorses leves são comuns e o prazo de recuperação é esse mesmo, uma semana", diz Cunha. O médico afirma que a geometria da articulação favorece as lesões no joelho. "A perna e a coxa formam uma alavanca e o joelho fica bem no meio."
As lesões mais conhecidas do joelho são as de ligamento e as de menisco. Os ligamentos têm um poder, embora pequeno, de regenaração. Isso não acontece no menisco, que jamais cicatrizam.
Até os anos 70, as lesões de menisco exigiam sua retirada integral. Abria-se a articulação e o tempo de recuperação chegava a seis meses. Depois, foi desenvolvida a técnica de artroscopia.
Com a ajuda de uma microcâmera de TV, opera-se o joelho sem abri-lo. Apenas a parte lesada do menisco é retirada, com a ajuda de pinças e de um "aspirador" especiais, ou ainda com laser –cauterizando o pedaço lesado do menisco sem retirá-lo.
O problema é que o joelho nunca mais volta a ter a estabilidade de antes. "O jogador que opera os meniscos tem tendência à atrofia e precisa fazer musculação de manutenção para o resto da vida", diz Moraci Sant'Anna, preparador físico do São Paulo e da seleção.
Sant'Anna e Cunha concordam que a única solução é evitar as lesões. Para preveni-las, o preparador recomenda exercícios de musculação do quadríceps (grupo de músculos da parte anterior da coxa), que ajudam a dar estabilidade ao joelho. Cunha concorda com isso em caso de jogadores com problemas de menisco, mas alerta que é preciso reforçar também os músculos de trás da coxa, como o ísqueo-femural. "Só exercitar o quadríceps pode provocar desequilíbrio e forçar mais o joelho. Por isso, é importante fortalecer os músculos de trás da coxa."

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