São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Guerra da telefonia vai aos limites nos EUA

RUPERT CORNWELL
DO "THE INDEPENDENT", EM WASHINGTON

Tudo começou quando uma vendedora da companhia telefônica Sprint tentou me convencer a passar para sua empresa em lugar da muito maior AT&T.
Odeio telemarketing. Mas ouvi o que a senhorita tinha a dizer. Não entendi a maior parte, exceto suas promessas de polpudos descontos se eu deixasse a AT&T.
Minutos depois, eu havia concordado em me tornar assinante da Sprint. Acabara de me meter no meio da Grande Guerra Americana do Telefone.
Se alguém duvida que os EUA sejam a terra da livre concorrência, que mande instalar telefones.
Para os hereges como eu, a única coisa que importa é conseguir se comunicar através de uma linha razoável. As contas saem parecidas e são sempre espantosas.
Mas não é esse o ponto de vista da AT&T, da MCI e da Sprint, as três maiores companhias de telefonia interurbana.
Na condição de alguém que faz frequentes telefonemas interurbanos e internacionais, sou requisitado. Minha passagem para a Sprint não poderia deixar de ser notada.
Na Sprint, eu me registrara num plano que oferecia um desconto de 20% sobre os três números para os quais ligo mais frequentemente e de 36% se um deles por acaso fosse assinante da Sprint.
Depois a MCI começou a me vender seus descontos –PrimeTime–, além de Amigos e Familiares –você cria "círculos telefônicos" de até 22 pessoas, com direito a um desconto de 20%.
Mas tudo isso é pouco comparado aos esforços despendidos pela AT&T para me ter de volta.
Um deles se chama Prêmios Verdadeiros –descontos no aluguel de carros. Outro é o Voz Verdadeira, que oferece "o mais límpido e natural som interurbano inteiramente de graça".
Quando tudo fracassou, a AT&T me enviou um cheque –com fundos– de US$ 75, sob a condição de que, quando fosse descontado, eu voltasse automaticamente à AT&T.
E eu tinha toda liberdade de aceitar o dinheiro e logo depois me transferir para outra empresa.
O que as pelo menos 300 ofertas especiais, segundo alguns cálculos, ocultam é o fato de que as três empresas elevaram suas tarifas em 3,9% na última primavera.
Hoje elas lucram 15 centavos por dólar, suficiente para a mais pródiga campanha publicitária.
O que está em jogo é um mercado que já vale US$ 70 bilhões por ano e cresce rapidamente. Até 1996, novos cabos e satélites terão aumentado a capacidade para um milhão de telefonemas separados por segundo entre EUA e Europa.
É provável que dentro em breve o Congresso autorize as companhias locais a ingressarem no mercado da telefonia interurbana, concorrendo com as três grandes.
Enquanto isso, a MCI está investindo uma fortuna para implantar suas próprias redes locais. O prêmio maior serão as chamadas "super-rodovias" que colocarão telefone, vÍdeo, canais de TV, dados computadorizados e todo o resto nas linhas telefônicas.
Um jornal descreveu a recém-modernizada rede interurbana da AT&T (que já gera lucros da ordem de US$ 40 bilhões) como "o patrimônio empresarial mais valioso do mundo".
Levando tudo isso em conta, mais o telemarketing e os cáculos que ainda serei obrigado a enfrentar, acho que US$ 75 é o mínimo que poderiam me oferecer.

Tradução de Clara Allain

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