São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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o pior do MAU HUMOR

CARMEN MUNARI

o pior do MAU HUMOR
Todo mundo conhece (ou se reconhece). Aquela pessoa que chuta a porta de casa quando esquece a chave no trabalho. O fulano de cara amarrada, sorriso amarelo e piada deprê, que cumprimenta você dia sim, dia não. Dá até para conviver com tipos assim – esses erritadinhos é que parecem não aguentar conviver com os outros ou com eles mesmos. Se o pavio curto surge esporadicamente, ok. Se os ataques são frequentes, o tipo tem nome: mal-humorado. Bom humor é sinal de saúde. Mau humor, o óbvio contrário. Fome, dor e doenças (problemas circulatórios, gástricos, do fígado ou tumores) podem provocá-lo. Tudo isso excluído, o mau humor excessivo passa a indicar a manifestação de uma depressão. Desprezado pela maioria dos estudos científicos, o mal-humorado crônico tem duas saídas: farmácia ou divã.
TRATAMENTO. O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas arregimenta 20 mal-humorados para uma pesquisa financiada pelo Estado. Até agora, dez voluntários tomam doses diárias e baixas de antidepressivo Anafranil, com respostas positivas, segundo os pesquisadores. A pesquisa vai ser concluída em dois anos. Quem quer combater o efeito, toma a droga. Quem quer buscar as causas, vai ao divã. Para psicólogos, o humor é um estado emocional primitivo. Aquele que a gente sente e pronto: "estou meio triste". Diferente do elaborado "estou apaixonado". O mau humor desanima, está ligado à dor, à raiva. O mal-humorado não deixa as emoções positivas entrarem, se isola – mas contagia quem está por perto. Expressa uma depressão, fruto das suas frustrações. A saída pode estar na análise dessas frustrações.
ORIGEM. Como diz o dicionário: do latim "humore", líquido; substância orgânica líquida; disposição do espírito. Humor é o que jorra do indíviduo, como um líquido. De Hipócrates ao Renascimento, a saúde era determinada por quatro humores: o sanguíneo (ligado a manifestações do coração), o fleumático (ligado ao cérebro), o colérico (bílis, fígado) e o melancólico (baço). O temperamento seria a composição desses quatro humores. Para os leigos, ficou apenas a relação do humor com o fígado (mau humor? problema no fígado). A medicina mudou, os humores passaram, mas o problema ficou.

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