São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Maquetes crescem com mercado imobiliário

CLÁUDIA RIBEIRO MESQUITA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Maquetes são como "bolas de cristal" que antecipam, de forma tridimensional, edifícios, parques, usinas, cenários, projetos educacionais e culturais e os mais variados tipos de produtos. Seu grande filão é o mercado imobiliário, que, quando aquecido –como está ocorrendo este ano–, agita freneticamente os artesãos das oficinas.
Maquetes de prédios e conjuntos residenciais respondem por mais de 80% dos pedidos –e são as mais bem pagas. Uma maquete simples, de um prédio de 20 andares, por exemplo, pode custar entre US$ 4.000 e US$ 7.000.
Outros modelos mais complexos chegam a valer o dobro, como uma maquete do projeto de um conjunto residencial em Campinas (interior de São Paulo), o Bougamville, encomendada à Kenji Maquetes por US$ 15 mil.
O objetivo desse tipo de modelo é promocional, para auxiliar na venda dos imóveis. "A função da maquete, nesse caso, é elucidar ao leigo o que foi projetado em duas dimensões e instigá-lo", diz Kenji Furuyama, 61. Há 32 anos no mercado, Kenji conta com 15 empregados e fatura por mês cerca de US$ 30 mil, 20% dos quais computados como lucro.
Segundo ele, as despesas com mão-de-obra ficam em quase 70%. "Meus funcionários recebem um salário e uma comissão de 30% em cada trabalho que executam", diz.
Kenji começou a trabalhar com maquetes aos 19 anos na Kevel, uma das poucas maquetarias de São Paulo no ano de 1954. Por ali passaram também dois outros maquetistas da cidade, Adhemir Fogassa e Achiles Maimoni. Os três aprenderam o ofício na prática.
"A formação de um maquetista é aleatória", afirma o professor Júlio Katinsky, do departamento de história da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Segundo ele, muitos começaram com aeromodelismo e, hoje, são profissionais bem remunerados.
São poucos os que se dedicam a essas miniaturas. Em São Paulo, de acordo com os maquetistas, deve haver cerca de 60 profissionais. Quem está no ramo não reclama. Um autônomo, em um bom mês, pode faturar até US$ 6.000.
Mário Segall, 39, abriu seu escritório em 93. Segundo ele, o investimento para montar a oficina ficou em torno de US$ 10 mil. Alguns equipamentos foram trazidos de Londres. Sua capacidade de produção é de quatro a cinco maquetes por mês. Em meses de pico, Segall afirma que fatura cerca de US$ 6.000, e seu lucro beira os 25%. "As maquetes, em Londres, são respeitadas como parte do projeto", conta. "Aqui, nem tanto."
Roberto Cardoso, arquiteto recém-formado, começou a fazer maquetes para os projetos de faculdade e, hoje, a maior parte de sua renda vem delas. Segundo ele, dá para lucrar, em média, US$ 1.000 por mês. Mas em 92, por exemplo, ele e mais um grupo de maquetistas receberam, cada um, US$ 5.000 por 45 dias de trabalho para a produção de uma maquete do projeto de despoluição do rio Tietê, apresentada na Eco 92.

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