São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Hospital fica sem médico no feriado

AURELIANO BIANCARELLI; ANTONIO FLÁVIO ARANTES
DA FT E DA REPORTAGEM LOCAL

Nenhum médico compareceu ontem ao plantão do Hospital Municipal da Vila Nhocuné. No João 23, na Mooca (também na zona leste), dos 31 que deveriam dar plantão na sexta-feira, 21 faltaram e uma placa na porta indicava: "Não temos clínicos, pediatras e psiquiatras. Não insista." Ontem, a placa foi retirada.
Os funcionários do Vila Nhocuné se limitavam a informar na porta que o hospital estava fechado e que os doentes deveriam procurar outro hospital.
Segundo as enfermeiras, havia 29 pacientes internados, entre eles um doente de Aids em estado terminal e um esfaqueado. Ninguém soube informar quantos médicos faziam parte do plantão.
"A gente não pode dar uma aspirina. Se morrer alguém, você só faz o pacote e manda para o IML (Instituto Médico legal)", disse uma auxiliar de enfermagem. Os funcionários concordaram em falar sem se identificar. Entre eles, havia 11 seguranças.
A única médica que passou pelo Vila Nhocuné, Cláudia Maria Guimarães, veio emprestada da equipe de plantão do Hospital João 23.
Segundo as enfermeiras, a falta de médicos é uma rotina. "Só na semana passada cinco deles pediram demissão", disse uma delas.
Sem médicos, sequer o transporte de pacientes de ambulância podia ser feito, já que depende de autorização.
Ana Cristina de Paula Hais, 22, grávida de dois meses, chegou com hemorragia. Sem condições de procurar outro hospital, ela e o marido decidiram esperar pela chegada de um médico. "Quem sabe com a mudança do plantão aparece um", disse Paula Hais.
Segundo o vereador Adriano Diogo (PT), que visitou os hospitais João 23 e Tatuape, vários dos médicos em serviço chegaram atrasados ao plantão, entre eles o único pediatra presente ao João 23 na sexta.
No Hospital Municipal do Tatuapé, no sábado à noite, o vereador não teve acesso à grade com as equipes para saber o número de faltosos. Segundo a Lei Orgânica do Município, o nome dos plantonistas deve estar em lugar público e visível. Diogo afirma que a maternidade do Tatuapé está fechada e não tem data para reabrir.
Também no sábado, o secretário de Saúde, Silvano Raia, esteve no Hospital do Campo Limpo e também constatou a falta de médicos.
(Antonio Flávio Arantes e Aureliano Biancarelli)

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