São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Lá e cá

A economia brasileira vem se deparando com uma crescente influência dos mercados internacionais. Devido à velocidade com que se sucedem os fatos econômicos internos em um país com mais de 40% de inflação mensal, é natural que tais efeitos tenham recebido atenção menor até há pouco.
A excepcional reversão nas entradas de capital no último mês, porém, atraiu as atenções para essa influência até então coadjuvante. Após cinco meses com entradas de US$ 600 milhões a US$ 1 bilhão, as projeções para março apontam saídas líquidas de US$ 700 milhões.
Nos últimos anos, o crescimento da participação de capital externo na Bolsa de Valores e a maior captação de recursos internacionais, por parte de bancos e empresas brasileiras, ampliaram o impacto no Brasil de eventos externos.
A elevação de juros nos Estados Unidos e no Reino Unido fez com que os mercados do Primeiro Mundo voltassem a se mostrar mais atraentes. Ademais, ao ajudar a deprimir as bolsas dos países ricos, os juros internacionais mais altos levaram vários investidores a vender ações na América Latina para compensar com os lucros daqui os eventuais prejuízos no exterior.
Por outro lado, o assassinato do candidato favorito às eleições presidenciais do México significou, para muitos, que os chamados mercados emergentes, entre os quais se inclui o Brasil, são mais instáveis do que se imaginava. A soma desses fatores levou a uma queda dos títulos da dívida externa brasileira de quase 20% nas últimas três semanas.
Apesar de negativos, tais fatos não dão motivo para alarme. O Brasil tem uma larga margem de segurança em suas reservas e os movimentos das últimas semanas tendem a ser ajustes temporários, depois dos quais o mercado deverá se estabilizar. Ademais, o superávit na balança comercial, de cerca de US$ 2,5 bilhões em março, indica que o país continua competitivo.
No médio prazo, porém, a manutenção do equilíbrio externo é crucial para a estabilidade da economia. E a força com que os acontecimentos recentes afetaram os fluxos financeiros chama a atenção para uma nova interdependência que não se pode mais negligenciar.

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