São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Remédios para a inflação

A atuação do governo no tocante a preços tem sido alvo de preocupação constante. Passado um mês de URV, essas dúvidas estão longe de resolvidas, mas já é possível vislumbrar um horizonte menos baço.
O que se observa é uma atuação importante do Ministério da Fazenda no monitoramento setorial. No lugar de aparelhos autoritários, como o CIP e a Sunab, vai surgindo uma política de preços que se poderia chamar de estrutural.
A essência e a dificuldade da nova abordagem estão na definição do que seja um preço "não abusivo". Os fabricantes de cervejas e refrigerantes, por exemplo, indagados sobre a eventualidade de se abrir mais esse mercado às importações, não se opuseram, desde que fossem facilitadas também as importações de insumos importantes, como latas, garrafas e rolhas metálicas. Ou seja, é possível em cada setor buscar um preço "não abusivo", desde que se entenda que praticar preços competitivos (não inflacionários) é um desafio que afeta uma série de empresas em cada área.
Trata-se não apenas de vistoriar tabelas, mas de identificar as mudanças, como a liberalização comercial, que podem tornar competitivo um setor. No caso dos remédios, por exemplo, a importação de uma gama maior de matérias-primas e o esforço de negociação possibilitaram afinal que indústrias e farmácias chegassem a um acordo para a adoção da URV.
Os preços ao consumidor continuarão expressos em cruzeiros reais, mas reajustados semanalmente pela URV. As empresas darão às farmácias desconto de 4% nas suas vendas. Tal resultado não é excepcional, mas não deixa de ser positivo quando vários outros setores ainda se mostram distantes de solucionar a queda-de-braço para a adoção do novo indexador.
A lição parece bastante clara: interessa ao país que exista uma política de preços, não uma polícia de preços. Uma política centrada na busca da competitividade autêntica ainda é a melhor forma de combater o mal inflacionário.

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