São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994 |
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Dividido, PMDB decide hoje se fará prévia
CLÓVIS ROSSI
Quercistas admitem que 30% dos líderes do partido não farão campanha para o ex-governador caso ele seja candidato O Diretório Nacional do PMDB reúne-se hoje para ratificar ou não a realização de uma prévia para a escolha do candidato presidencial, já em ambiente de aberto racha interno. "Será a cristalização do racha", imagina o deputado Roberto Rollemberg, presidente do PMDB paulista, ele próprio disposto a estimular a cisão. "Quem não tem intenção de ficar no partido, deve dizer logo", cobra Rollemberg, que já foi um incondicional de Orestes Quércia, afastou-se depois e, agora, defende a candidatura do ex-governador. Até o tamanho da eventual cisão já está calculado, na hipótese de Quércia conseguir entronizar a sua candidatura, na prévia ou pelo mecanismo mais ortodoxo, o da convenção: 30% das lideranças peemedebistas, calcula Rollemberg, não farão campanha pelo ex-governador. Entre esses 30% pode estar até o presidente do partido, o deputado Luiz Henrique da Silveira (SC). Rollemberg vai cobrar hoje de Luiz Henrique a confirmação de notícia dada pela Folha, segundo a qual não faria campanha se Quércia fosse o candidato. "É um absurdo", reage Rollemberg. O próprio Luiz Henrique acredita na hipótese de racha, embora por outro motivo. "Se houver prévia, salva-se a unidade partidária. Se não...", disse o deputado. Essa avaliação parece otimista demais, a julgar pelo estado de espírito de Rollemberg. Para o deputado paulista, seja qual for o resultado da prévia, quem quiser disputar o voto na convenção não tem impedimento legal para fazê-lo. A convenção é, de resto, o único instrumento reconhecido pela Justiça Eleitoral para a formalização de uma candidatura. Pode, portanto, acontecer de o ex-presidente José Sarney ganhar a prévia mas Quércia disputar -e ganhar- a convenção. Descontentamento Quércia não esconde mais o descontentamento com a cúpula partidária. Ele contou ontem à Folha que, dois meses atrás, em reunião com Luiz Henrique e o líder do PMDB na Câmara, Tarcísio Delgado (MG), ouviu do presidente peemedebista a afirmação de que já não havia mais tempo para uma prévia. "Se não havia há dois meses, como pode haver agora que o tempo é ainda mais curto?", pergunta Quércia. O ex-governador sabe que a idéia da prévia é apenas uma nova maneira encontrada por seus adversários internos para tentar evitar a sua candidatura, depois do malogro das tentativas de convencer o deputado Antônio Britto (RS) e o governador Luiz Antonio Fleury Filho (SP) a enfrentá-lo. Telefonema A contrariedade de Quércia estende-se ao ex-presidente José Sarney, que ontem telefonou ao ex-governador para avisar que disputaria a prévia. Na semana passada, Sarney também telefonara, mas para dizer o contrário. Irritado com a sucessão de obstáculos à sua confirmação como candidato, Quércia usa um discurso inusual para ele, sempre triunfalista. "Tenho certeza que a base do partido me apóia. Mas se não me apóia, que diga logo, que aí deixo de ser candidato", afirmou. Dificuldades Quércia garante que liberou seus seguidores para tomar a posição que quiserem a respeito da prévia, mas orientou-os a apontar as dificuldades práticas para a sua realização. "Pode haver muita contestação, inclusive judicial, o que só prejudicará o partido", antecipa o ex-governador. Mesmo na hipótese de a prévia favorecer Sarney, o risco de cisões não desaparece, à medida em que o líder Tarcísio Delgado tampouco aceita essa candidatura. Delgado acha que Sarney é apenas formalmente do PMDB, mas tem suas raízes no PFL. O próprio Sarney admitiu à Folha, na semana passada, que sua convivência com o PMDB "nunca foi muito tranquila". Texto Anterior: Maluf diz que PPR só faz alianças em torno de candidatura própria Próximo Texto: Errei, mas sou o mais experiente, diz Sarney Índice |
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